EXPERIÊNCIA CULINÁRIA

A não ser para os fundamentalistas que lotam os restaurantes de comida natural, comer sempre foi uma das boas coisas da vida e, nessa linha de pensamento, como dizia o grande Tim Maia, “vale tudo, vale o que vier”... Assim, a cozinha acaba virando um laboratório para quem junta a criatividade com a vontade de testar coisas novas.

Nada a ver com quem tem suas taras perseguindo tira-gostos de grilos, gafanhotos, escorpiões e outros tantos representantes da fauna invertebrada. Há lugares em que a cultura trata desse tipo de alimento como algo tão ostensivo quanto o churrasco nas nossas bandas.

Em alguns países da Ásia é comum, nos mercados de rua, serem expostas centenas de “iguarias” preparadas com esses tipos de animais e não ficam por menos os quitutes com carne de cobra, de rato, todo o tipo de verme, lesmas, etc... etc...

Para não deixar passar em branco, um veio dessa cultura oriental, aqui mesmo, no Brasil, há lugares em que na época das primeiras chuvas, surgem enormes revoadas de tanajuras em busca do acasalamento para a formação de novas colônias.

Esses insetos recebem o nome de “içá” e, lá para as bandas do Vale do Paraíba é comum a criançada e boa parte da população adulta saírem na “catada da içá” para se refestelarem com a iguaria que é preparada como farofa ou frita, parecendo amendoim. Há quem aproveite somente o abdômen que é recheado de ovas e essas são proteína da boa e, de graça. Mas também há os que não desprezam nem o tórax e nem as pernas. Tiram somente a cabeça do bicho e o restante vai para a frigideira.

Embora o nosso caso nada tenha a ver com a tanajura, também passa pelo terreno do inaceitável para muita gente boa mais afeita à ortodoxia no terreno da culinária. Como sou mais flexível, vou contar uma experiência que considerei muito bem sucedida e que vou colocar no meu cardápio.

Já ficou bem claro para os amigos leitores que sinto certa afeição pela cozinha e pelos perfumes que saem pela boca da panela afora. Assim costumo fazer minhas brincadeiras, na maioria das vezes inventando, sem ter qualquer auxílio das receitas prontas que fazem a festa de muita gente por aí.

Tinha, na geladeira, uma boa porção de carne moída, já temperada e cozida. Era um domingo e pensei em fazer um espaguete daqueles triviais na casa de qualquer família.

No caldeirão fervente, coloquei um pouco de azeite e um punhado de sal grosso. Quando a água chegou à fervura, coloquei aos poucos, o espaguete e deixei que cozinhasse até que ficasse “ao dente”.

Enquanto a massa estava sendo cozida, tratei de dar largas à inventividade e coloquei uma pitada de orégano na carne moída com um molho pronto, do tipo “bolonhesa”, duas caixinhas de creme de leite, um pouco de azeitonas descaroçadas e mais alguns bocados de “katchup”. A mistura tomou uma tessitura cremosa e de coloração rosada oferecendo uma bela visada, com jeito de molho de estrogonofe.

Foi aí que surgiu a idéia de aplicar o que seria a “invenção”, já que massa desse jeito é conhecida desde que o mundo é mundo. Para ver como é que iria ficar, já que nunca ouvi ninguém dizer que havia provado um talharim dessa forma, enveredei pelo inusitado.

Com ares de quem poderia estar entrando em uma encrenca, passei a mão em uma conserva de “pimenta-de-cheiro” e pinguei algumas gotas misturando bem. Imediatamente comecei a sentir o perfume que saía de dentro do caldeirão. Virei aquilo tudo num pirex e corri para a mesa com a minha mulher.

Ela, olhou, fez uma cara meio esquisita, deu duas torcidas no nariz e disse que não iria comer “aquilo”... Como já imaginasse a reação, pois sei que ela não aprecia nadica de pimenta, deixei uma bela porção, sem pimenta, para que não ficasse “aguada”.

Para mim, não deu outra! Em vez de comer “aquilo”, posso dizer que achei tão bom que comi “a quilo”. Assim, resolvi trazer essa minha experiência para o “Recanto”, a fim de que nossos amigos leitores que, como eu, não sejam tão ortodoxos, façam o teste e que possam aprová-lo, assim como eu.

Se houver algum leitor italiano ou de origem do país das massas, por favor, dê a sua impressão depois da degustação de um epaguete apimentado. Se considerarem uma boa pedida, que avisem aos amigos e parentes na Itália. Pimenta-de-cheiro, temos de montão para exportar!

Sobradinho-DF

29/09/2013

Anunnak

Amelius
Enviado por Amelius em 30/09/2013
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