Saúde.
Ele passou a vida inteira preocupado com a morte. Tinha muito medo de morrer. Para evitar ao máximo a única certeza da vida passou a tomar algumas precauções.
Para fugir do cansaço desnecessário, não saia em hipótese alguma à noite. Era importante manter o corpo relaxado. Balada então, nem pensar.
Começou a fazer rigorosamente oito horas de sono diário. Tinha que manter a sua taxa hormonal em dia para alcançar a longevidade.
Cortou também bebida com álcool, com gás e com corantes. Bebia somente água mineral e suco natural, desde que não tivesse açúcar. Passava longe dos refrigerantes.
Tinha atenção com tudo o que comia. A sua refeição era feita com pequenas porções de grãos, verduras, legumes e outras sementes que desconhecia o nome. De três em três horas, comia um barra de cereal ou uma bolacha integral para estimular o seu metabolismo. Era um grande sacrifício fazer tudo aquilo, mas sabia que de alguma forma isso iria valer muito a pena.
Quando ia ao supermercado passava horas anotando a taxa de gordura, açúcares e calorias de cada produto que iria levar. Consumia duas mil calorias criteriosamente. Nem mais, nem menos.
Estava orgulhoso do resultado quando se via no espelho. Mas era preciso ainda um pouco mais de dedicação.
Evitou agora ficar exposto ao sol. A radiação prejudicava a sua pele. Nada de praia, parque, nada.
Academia só em casa e exames preventivos começaram a fazer parte do seu dia a dia. Os médicos se surpreendiam a cada coleta de sangue. A sua saúde estava ótima. E era isso que ele tanto queria.
Reduziu mais as suas raras saídas pelas ruas da cidade. Por algum descuido, Deus me livre, poderia pegar alguma bactéria ou um vírus. Não, isso não. Saúde em primeiro lugar. Tinha que viver. Tinha que estar bem. O jeito era ficar de vez em casa. E foi o que ele fez.
Dia após dia, durante anos, manteve uma saúde invejável. Era de um garotão de 15 anos. De 17, no máximo.
Um dia, após tomar leite de soja, ele passou muito mal. Não entendia, mas sentia que estava doente. Alguma coisa estava errada. Verificou novamente as taxas de lipídios, glicídios, proteínas e calorias do que havia consumido. Estava tudo certo, perfeito. Olhou a validade do leite. Estava em dia.
Foi até o hospital e fez vários exames. Não acreditava no resultado. Estava doente e lhe restavam apenas alguns meses de vida. A morte era mais do que certa.
Ele se questionou por horas no leito do hospital. Depois de refletir bastante concluiu que já havia deixado de viver há muitos anos.