Gostos, cores e amores...

O gosto por coisas diferentes entre um casal nem sempre é de conhecimento público e normalmente as pessoas casadas se acomodam, por vezes se resignam e vão levando a vida do jeito que ela se apresenta. Mas nem todas as pessoas aceitam com resignação a imposição de comportamento do cônjuge e acabam reagindo de maneira vigorosa para fazer valer seus objetivos em busca da felicidade, mesmo que para isso tenha que assumir uma postura corajosa para impor sua vontade.

A história destes dois casais mostra como conseguiram suportar e conviver com os gostos diferenciados, enfrentando uma situação incomum, diria especial.

Tadeu e Mariana conheceram-se em um verão, numa praia, em que foram passar suas férias. Apaixonaram-se e tempos depois estavam casados. Logo após o casamento, as diferenças de gostos começaram a se acentuar. Ele era apaixonado por futebol. Daqueles que levantava de manhã em dias de jogos já vestindo a camiseta do seu time. Seu assunto nos domingos, desde as primeiras horas da manhã era o jogo. Preparava-se para ir estádio à tarde ou acompanhar o time em outra cidade, pouco importando-se com a opinião de Mariana que, parecendo resignada, preferia passar as tardes com sua mãe ou mesmo fazendo alguma caminhada. Na verdade, ela era apaixonada por dançar, enquanto seu marido detestava vestir uma roupa social e entrar num clube para acompanhá-la. O máximo que ele fazia quando entrava num clube, era para comemorar a vitória de seu time ou afogar a tristeza da derrota. Ela convivia com isso na esperança que um dia aquilo acabasse e que seu marido entendesse que eventualmente poderia sair com ela, dançar, se divertir e não tão somente num estádio de futebol.

Os anos foram passando e a paixão do marido pelo seu time de futebol nunca diminuiu, ao contrário, tornou-se uma verdadeira doença, aparentemente sem cura.

Certo domingo, dia de jogo do time de seu marido, ela resolver ter uma conversa rápida com ele, antes dele sair para o jogo logo após o almoço. Na verdade, não era uma conversa, mas uma comunicação. Disse que naquela tarde iria a um clube dançar. Ele, preocupado com o jogo de seu time, como que querendo não ser incomodado, concordou imediatamente. Ela sabia que independente do resultado do jogo ele viria pra casa bem mais tarde, provavelmente um pouco embriagado, fosse pela vitória ou pela derrota.

Ele saiu em direção ao estádio e ela preparou-se para ir ao clube dançar. Nunca tinha ido sozinha, mas dessa vez iria com algumas amigas com seus namorados/maridos ou apenas amigos. Foi um domingo muito divertido. No baile, fez exatamente o que sempre teve vontade de fazer. Dançar. E como dançou.

A partir daquela experiência elegeu como prioridade nos seus domingos à tarde a presença no clube para dançar, apenas dançar, pensava ela, afinal era seu divertimento preferido, além de conhecer pessoas, homens que também gostavam de dançar e freqüentavam o clube com o mesmo objetivo.

Percebeu que muitos com os quais dançava eram casados, mas que iam ao clube sozinhos justamente porque suas mulheres não gostavam de dançar ou por outros motivos, o que era incomum, afinal pelo que se sabe normalmente as mulheres gostam desse tipo de evento. Então, observou que não era só ela a estar ali naquela situação.

Para ela e o marido a situação ficou cômoda. Ele ia para o estádio de futebol e ela para o clube. Quando voltavam para casa, cada um à sua maneira, comemoravam o domingo, sem maiores problemas.

Num domingo em que mais uma vez ela estava no clube, dançou com o homem simpático, além de ser um bom dançador. Começaram a dançar e viram que a empatia era grande nos passos, na conversa e nas afinidades. Descobriu que o homem, Antonio era seu nome, vivia a mesma situação dela. Sua mulher era apaixonada por futebol e detestava dançar. Esta coincidência chamou a atenção dos dois que, afinal não era tão comum uma mulher gostar tanto de futebol a ponto de liberar o marido para dançar, enquanto ela ia para o estádio.

No final daquele baile, ele ofereceu-se para levá-la em casa. Como sempre ia ao baile usando transporte coletivo, pois o marido não abria mão do carro para ir ao estádio, ela aceitou a gentileza e embarcou no carro. Até chegarem em sua casa a conversa rolou com uma naturalidade interessante, como se fosse amigos de longa data.

No domingo seguinte, novamente encontraram-se, enquanto seus respectivos pares tinham ido ao futebol numa cidade próxima, pois o time do coração dos dois, coincidentemente era o mesmo e naquele domingo jogaria fora da cidade.

Aquela tarde parece que passou mais rápido. Como Tânia, a mulher de Antonio, e seu marido Tadeu demorariam mais tempo para chegar em casa, resolveram esticar um pouco a conversa. Sentiram que estavam se divertindo muito e já naquele domingo não tinham trocado de par durante o baile, dançando o tempo todo, comemorando o fato de se acertarem muito bem para dançar.

De volta para casa, quando chegaram à residência dela, encontraram chegando também o marido. Ela apresentou o amigo e apesar da conversa ter sido rápida, indicou que aparentemente não tinha causado nenhum constrangimento. Na verdade, simpatizaram um com o outro.

No domingo seguinte, o encontro de Mariana e Antonio não aconteceu no clube. Durante a semana combinaram que ele a apanharia em casa para irem ao clube, além de aproveitar a oportunidade e apresentar sua mulher Tânia a Tadeu e, quem sabe, incentivarem para que fossem juntos ao jogo de futebol do seu time preferido.

Estava feito o programa, afinal era apenas mais um jogo de futebol e mais um bailinho para que todos pudessem se divertir. Na hora marcada, Antonio e Tânia chegaram na casa de Tadeu e Mariana. A conversa foi rápida entre os quatro e agora ‘devidamente apresentados e ‘trocados’” rumaram para seus locais de divertimentos preferidos, Antonio e Mariana para o clube e Tadeu e Tânia para o estádio.

A experiência foi comemorada por Tadeu e Tânia, pois eram torcedores do mesmo time, adoravam a agremiação com uma paixão incomparável e, coincidentemente, falavam de futebol com uma naturalidade incrível, enfim identificaram-se tão iguais que quem os visse não teria dúvida alguma que formavam um casal casado e muito feliz.

O mesmo acontecia com Antonio e Mariana no clube. Quem os viesse dançar não poderia imaginar que eram apenas amigos e que o objetivo eram o de apenas irem juntos ao clube para dançar, enquanto seus cônjuges, também juntos, freqüentavam um estádio de futebol no mesmo horário.

Em resumo, tinham tomado uma decisão prática. Afinal, se tinham gostos totalmente diferentes e encontraram um meio de curtir o que gostavam, porque não fazer o que fizeram, isso não seria problema e sim uma solução para viverem melhor. Foi o que pensaram e colocaram em prática.

O fato é que os dois casais começaram a conviver mais de perto. Fizeram amizade e eventualmente encontravam-se, hora na casa de um, hora na casa de outro. Quanto tinha futebol na TV, os dois que amavam futebol iam para a sala ver o jogo, enquanto os outros dois ficam em outro ambiente vendo um filme, ouvindo música ou fazendo qualquer coisa que não fosse futebol.

O tempo foi passando, a amizade crescendo entre eles e a convivência nos dias de futebol e baile acabou tornando-os até certo ponto cúmplices da situação. Nos bailes, a intimidade entre Antonio e Mariana era visível, gostavam de sentir um ao outro, realmente estavam inebriados pela dança, pelo momento, enfim, já não era apenas a amizade pela dança e sim uma atração e um sentimento mais forte. Sentiram que dependiam um do outro para viver aqueles momentos em que se divertiam e curtiam ao máximo. Mas ao mesmo tempo em que viviam momentos de plena felicidade, deram-se conta que do outro lado existia um marido e uma esposa que, talvez estivessem vivendo a mesma situação. Pela vez primeira sentiram medo. Medo de colocar em risco aquele relacionamento que veio na hora apropriada, tornou-se importante e, porque não dizer, decisivo para que pudessem viver mais felizes.

No caso de Tadeu e Tânia a situação não era muito diferente. Por conta das alegrias e tristezas de vitórias e derrotas de seu time, viviam situações de afinidade plena, trocando consolos, através de abraços apertados. Chegavam e saiam do estádio juntos de mãos dadas, como se casados fossem. Aquela intimidade também mexeu com os dois, descobriram que sentiam carinho, amizade e algo que não sabiam definir. Sentiam-se bem, felizes, realizados, e assim foram convivendo. Todos os quatro sabiam o que estavam vivendo e tinham medo que a situação fugisse do controle. Sabiam, também, que bastava um deles tomar e decisão e estariam enrolados em lençóis fazendo o que tinham vontade de fazer, mas que ainda não tinham feito.

Tadeu e Mariana resolveram, então, ter uma conversa sobre o que pensavam a respeito. Uma conversa aberta. Ambos diriam tudo o que pensavam, o que pretendiam e tomariam a decisão mais sensata. O mesmo aconteceu com Antonio e Tânia. Na verdade, eles tinham combinado que conversariam, cada casal à sua maneira, e abririam o coração para colocar a verdade sobre seus sentimentos. Depois da conversa de cada casal, promoveriam um encontro para os quatro colocarem exatamente o que pensavam.

o coração para colocar a verdade sobre seus sentimentos. Depois da conversa de cada casal, promoveriam um encontro para os quatro falarem abertamente o que pensavam.

Marcado o encontro, lá estavam os quatro juntos, inicialmente um pouco constrangidos, mas decididos a levar em frente a conversa deforma objetiva.

No momento em que iniciariam a conversa para a qual prepararam-se, curiosamente os quatro resolveram recuar e entenderam que deveriam agir com prudência. Na verdade, a conversa não chegou a acontecer, apenas uma sugestão foi suficiente para que todos entendessem exatamente como agiriam dali em diante, sem a necessidade de explicações para não haver qualquer tipo de constrangimento. Combinaram apenas que após o jogo e o baile não teriam compromisso com horário para retornarem às suas casas e ninguém perguntaria ou comentaria alguma coisa sobre como teriam aproveitado esse tempo.

Aliviados diante da concordância de todos, continuaram freqüentando o estádio e o clube, felizes e realizados. E sem culpa!

Herivelto (Veto) Cunha
Enviado por Herivelto (Veto) Cunha em 19/09/2013
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