Dou o Braço a Torcer OU Como é Bom Ser Canhota!
Esta crônica também poderia se chamar: dou o braço a torcer, dou a mão à palmatória ou você venceu, ou ainda, eu era feliz e não sabia! Gente do Céu! O que é essa dor que sinto na mão???
Dou o braço a torcer para você que passou por cirurgias nas mãos.
O que você deve ter sentido nesses meses de recuperação?!?! Movimentos simples como: desligar o despertador que toca pela manhã insistentemente, afastar o cobertor de cima da gente, escovar os dentes, colocar a mesa para o café da manhã, colocar o leite na leiteira para esquentar, passar manteiga no pão! São coisas simples, sem valor, mas que se passa a dar importância quando a sensação desagradável que se sente é enorme. Existem coisas menores e com dor maior: abrir o tubo da pasta de dente, abrir a torneira, cortar com a tesoura o bico da caixa de leite. Dói muito.
Dou o braço a torcer...
Fico imaginando você fazendo todas essas pequenas coisas e muito mais: dar banho nas crianças, arrumá-las para a escola, cuidar da casa e do marido, dirigir, fazer faculdade e ainda cuidar de si mesma! Quando você arrumou um jeitinho para si? Teve tempo? Sim. Tempo. O tempo gasto é em dobro já que se faz tudo muito devagar, pois é feito apenas com uma das mãos! E no seu caso, são as duas mãos operadas!! E a dor? Dói para passar a bucha e a tolha no corpo na hora do banho, para lavar e pentear os cabelos, vestir-se, calçar sapatos.
Dou o braço a torcer...
E a hora do lazer? Apertar o controle remoto, escrever no notebook, e até para a leitura dói a mão ao segurar o livro. Hora do cooper? Excelente, mas como vestir-se e dar o laço no tênis? Quer coisa mais simples do que dar um laço no tênis?
Preparar o almoço é fácil, mas com dor é muito ruim: mexer a panela; abrir a torneira, colocar e retirar a mesa, lavar, secar e guardar a louça. Fazer faxina nem pensar. Varrer a casa dá. Sem muita dor, mas nem pensar em lavar a casa e lavar roupas, porque o ato de torcer o pano, causa uma dor infernal.
Dou o braço a torcer...
Você teve que cuidar de si e de sua família com dor nas duas mãos, fez cirurgia, passou por fisioterapia e ainda não está 100% curada. A dor continua e as tarefas a fazer também.
Amanheci com dor apenas na mão direita e estou passando por esses problemas ocasionados pela dor apenas num final de semana e já estou cansada de sentir dor e de ter que usar a mão esquerda para tudo! Como é bom ser canhota! Parece até que a dor já passou para o braço, ombro, pescoço, ouvido e que estou com íngua embaixo do braço. Será somente impressão? Charme? Infantilidade? Feminilidade? Fragilidade? Carência? Será? Não importa o que seja. O que importa é que estou sentindo dor na mão direita.
Dou o braço a torcer...
Coloco no braço uma tipoia feita com um pano de secar louças (arranjada, guaribada, meia-boca, mas que deu um “baita” alívio à dor). E na segunda-feira quando voltar a trabalhar? Nem quero pensar! Usar o furador, o grampeador, o computador (com-puta-dor!!!)! Pelo menos poderei usar minha luva especial para L.E.R., que está guardada na gaveta, a fim de atenuar o problema.
Dou o braço a torcer...
Simone Possas Fontana
(escritora gaúcha de Rio Grande-RS, membro correspondente da Academia Riograndina de Letras, autora dos romances: MOSAICO e A MULHER QUE RI)