No ônibus

Ela, uma mulher nova, de não mais que duas décadas de vida. Alta, pele levemente amorenada, cabelo liso, que se espalhava pela cabeça e cobria parcialmente seus olhos. A pesada maquiagem e roupas escuras, numa referência ao estilo rock, aumentavam o ar de mistério de sua figura.

O seu visual e a mochila pesada, de couro marrom e volumosa, disfarçavam alguma delicadeza que outras mulheres daquela sociedade tinham. Mantinham e continuavam.

Seu olhar, um pouco distante, mas também presente no momento, era uma janela para seu mundo.

O rapaz, na cadeira ao lado e uma fileira atrás, fazia todo tipo de malabarismo para olhá-la, sem ser olhado. Tarefa difícil, porém satisfatória. Misteriosa e transformada. Era a imagem que ficava.

Nessa rápida distração, que o momento permitia, o desengonçado rapaz, muito animado, gira seu corpo rapidamente, alarmado com seu ponto que sumia no pequeno horizonte na janela do ônibus.

Tentar deixar seu recado a misteriosa moça e não perder seu ponto, de saída. Quase que forçada, era mais uma das tarefas do momento. Duas numa rápida fração de tempo. Ele assim o faz, obviamente, com a pouca desenvoltura que a situação lhe permitia.