A menina e o piano(segunda parte)
Ana era uma menina de nove anos, nervosa e instável, andava sempre na corda bamba dos pais por causa das suas discussões constantes.
Ana era muito bonita e inteligente, tinha cabelos compridos, encaracolados, castanho-claros, olhos castanhos e tinha um porte altivo.
Maria sentia por vezes uma ponta de inveja, ela queria ser como a prima. Era o seu ídolo.
Ela era apaixonada por livros de príncipes, princesas e fadas. Achava que a prima era parecida com uma daquelas suas princesas. Os seus cabelos sempre bem penteados, encaracolados, caídos pelas costas, os vestidos de cambraia e seda enfeitados por laços de veludo, com muita roda. Simplesmente maravilhosos. Os seus eram feitos de chita às florinhas, simples e, quando a prima lhe dava as roupas que já não usava, Maria saltava de contentamento.
Quando a aula de piano acabou, as duas pequenas foram imediatamente para o quintal.
Ana, irritada, desabafou com a prima que não queria continuar com as aulas de piano. Eram uma maçada. Gostava de tocar de ouvido, mas detestava as aulas e praticar as escalas. O seu avô não compreendia que ela não podia concretizar o seu sonho. Ela não iria tocar mais. Podia dar até dar o piano ao primo Manuel, que, sempre que ia lá casa, namorava o piano.
- Pensava que gostavas de tocar piano. Disse Maria tristinha. -Tocas muito bem!
E a prima, firme na sua decisão, disse:
- Para mim acabaram as aulas de piano. O sonho do meu avô era que os filhos tocassem piano, mas eles não quiseram. Quando ele era pequeno, ouvia a vizinha a tocar piano e, fascinado pela suave música, espreitava a pianista pela janela. Prometeu a si próprio que, quando fosse grande, compraria um piano. Mas era muito pobre e teve que trabalhar muito para comprar o piano. Quando o meu pai tinha 15 anos, ofereceu-lhe esse piano, mas o meu pai nunca quis aprender. Pensou que eu iria realizar o seu sonho. Está muito enganado. Disse arrogante.
-Crianças, venham lanchar! - Chamava avó de Ana.
Ana tinha mais dois anos do que Maria, andava num colégio particular de freiras em Lisboa. Já sabia ler e escrever corretamente. O avô, quando trazia o jornal, dava-lhe sempre a folha que trazia os desenhos animados. Momento sagrado em que Ana se isolava e não dava importância à pequena Maria que andava à volta dela.
Priminha, já acabaste de ler? Eu quero brincar.
Continua