PSICOPUTA - porque tem coisas que não aprendemos na escola

Desde novinha só pensava em pica

Sempre fui bonita e gostosa

Nunca faltou nada

Meus pais são ricos

Fiz todas as viagens

Todos os cursos

Falo inglês, francês, alemão.

Autodidata em espanhol e italiano

Melhor aluna do balé

Toco piano e harpa

Campeã de esgrima na modalidade sabre

Aptidão nata pra aprender

Nunca fiz esforço

Formei-me pela UFRJ frequentando lavatórios

Mestrado e Doutorado

Sou engenheira química

Antes estudei no Santo Inácio

Foi lá que tudo começou

Com dezesseis anos já tinha chupado quase todos

Era eu a verdadeira putinha de banheiro

Nunca fui pega em flagrante

Não pelas candinhas religiosas

Boatos são só fofocas

Negávamos tudo

As freiras nunca tiveram certeza

Qualquer rumor era sem procedência

Os meninos eram cúmplices

Não se importavam com suspensões

Eles tinham muito a perder

Minha fama era o discurso abstrato da balela

Meus pais eram chamados pra conversar

As pedagogas com nada conseguiam corroborar

Para meus progenitores era cômodo não acreditar

Não tive problemas por conta do improvável

Minhas amigas, as idiotas da repetição de conceitos estabelecidos, diziam eu ser virgem.

Aquele papo de hímen sem pé nem cabeça

Não dar a buceta era minha perversão

Pra pessoas inteligentes eu posso dizer

Perdi a virgindade chupando dois alunos no banheiro

Aos quatorze

Nascia uma lenda

Adorava isso

Pau na buceta só aos dezessete

Hoje tenho trinta

Sustento meu vício

Meu teste vocacional deu pessoa amoral

Sou puta

Não sou garota de programa

Não sou acompanhante

Sou puta

A puta

Lembro de uma amiga falando da superclasse:

“Prostituição é profissão

Putaria é diversão

Puta é uma coisa

Prostituta é outra

Tudo é uma questão de atitude

A puta brinca

A prostituta não

A puta goza

A prostituta cobra

Mas existe a superclasse da fusão dos gêneros

As prostiputas

Essas trabalham por vocação”

Nunca esqueci tais palavras

Sou extraclasse

A prostiputa

Perpetro por gosto

Faço de tudo

Beijo na boca

Dou o cu

Bebo porra

Apanho

Sou submissa

Mulheres seguras são submissas

Só as inseguras são feministas

Sou uma devassa

Ironias da vida

Tenho hímen complacente

Eternamente “virgem”

Com vinte e quatro anos comecei a cobrar

Antes tinha uma profissão normal

Concursada da Petrobrás

Mauricinhos me comiam pouco

Prefiro desconhecidos

Um dia, num banheiro sujo de beira de estrada, um homem falou:

- Você gosta muito! Poucas pessoas ganham por prazer! Você merece receber!

Ele me deu uma nota de cem

Não foi o valor do dinheiro que me convenceu

Foi o símbolo

Cem Reais era muito dinheiro pra ele

Hoje cobro dois mil por três horas

Mas ainda dou de graça nos banheiros imundos dos homens fétidos

Gosto de esculacho

Nascida para fuder

Nem um homem pode resistir

Dias vãos

Noites vêm

Atualmente fetiches sussurram no meu ouvido

Fetiches macabros gritando todas as noites

Acordo assustada ouvindo:

- Broxar é inaceitável!

Coisas mudam quando demônios gritam

Contrariando os requisitos de segurança, recebo clientes na minha residência.

Existe um motivo

As vozes nos meus pesadelos

Tenho nojo de homem frouxo

Homem que não dá no couro é rato

E ratos têm de ser exterminados

Outro dia vi um cara comprando uma pá num sobradinho de Copacabronx

Podia pensar nele cuidando do jardim

Não

Pensei nele enterrando corpos

O sujeito olhou-me os olhos e saiu da loja

Tive certeza

Ele ia enterrar um corpo

Que mal há nisso

Existem muitos corpos que merecem ser enterrados

Cerrados e encerrados

Os errados excitam

O homem da pá

Tive um estalo

O insight da minha vida

A partir daí matei todos os broxas que não cruzaram os meus caminhos

E não é que tem broxa a rodo não fazendo o serviço!

Pior pra eles

Prefiro ser enterrada de piroca a ter de enterrar meninos flores

Pois é

Enterro mais meninos flores do que cuido do jardim

Moro numa casa imensa na Estrada do Joá

Terreno amplo

Muitas terras

Também comprei a pá

Eu não gosto de estatísticas negativas

Aí é sacanagem

Comigo é assim

Escreveu não leu, pau não comeu, morreu.

Vai pro buraco

Esse é o meu slogan

Pague para trepar e reze pra não broxar

Broxou é vala

Não sinto culpa

Meu analista já me diagnosticou

Dr. Gustini Victor Strasser

Ele sempre diz gozando em minha boca:

- Você não é puta. Você não é psicopata. Você é psicoputa.

E eu respondo de boca cheia:

- Porque tem coisas que não aprendemos na escola.

Dá mole pra mim