TARDE DEMAIS - TELEGRAMA
Por Gustavo do Carmo
----- Original Message -----
From: pericarsoa@messagenet.com.br
To: editor@boasletras.com.br
Sent: Friday, September 24, 2004 11:30 AM
Subject: Original de Romance
Prezado editor,
Estou enviando em anexo os originais do romance Chuvas na Solidão que eu escrevi e gostaria de ver publicado pela Boas Letras.
Atenciosamente
Péricles Soares
TELEGRAMA
REMETENTE: EDITORA BOAS LETRAS
PREZADO SR. PÉRICLES SOARES
AVALIAMOS O SEU ORIGINAL CHUVAS NA SOLIDÃO E INFORMAMOS QUE O REFERIDO FOI APROVADO COM LOUVOR PARA EDIÇÃO. ENTRE EM CONTATO CONOSCO O MAIS RAPIDO POSSÍVEL PARA ASSINATURA DO CONTRATO DE ADIANTAMENTO DE CENTO E CINQÜENTA MIL REAIS. ATENCIOSAMENTE. VERA. TELS: (21) 2XXX—XXX3 / 9YYY-YYY0
ENVIADO EM 24-03-2008
O interfone toca.
— Quem é? Pergunta a irmã de Péricles.
— É o carteiro. Tem que assinar.
— Graças a Deus! Pensei que fosse o oficial de justiça tomando o apartamento.
A mulher desce as escadas e atende o carteiro, que diz:
— Telegrama para o senhor Péricles.
— Obrigada. Diz a irmã do destinatário. — Eu vou receber apenas para ver se é uma boa notícia para ele. O meu irmão se matou ontem. A nossa família foi à falência e o Péricles, que ainda vivia às custas do meu pai, não suportou isso e a nova condição de desabrigado. Ele sonhava em ser escritor, mas ninguém lhe dava oportunidade e acreditava nele. Não queria outra coisa que não fosse escrever e ganhar muito dinheiro. Por isso, vivia discutindo com papai que o obrigava a trabalhar em qualquer coisa.
— Que chato. Meus sentimentos a vocês.
— Obrigada. Agora, com licença que eu vou voltar para o velório dele. Boa tarde.