O Cachorrinho e o Menino Depressivo - Cap. I
Era mais um dia e o casal logo cedo discutia na cozinha:
- Nós já fizemos de tudo por esse menino e ele não tem jeito. Não sai daquele quarto e não desiste dessa tristeza. Demos tudo para ele: roupas, casa, as melhores escolas e nada. Não sei mais o que fazer - reclamava o pai.
- Também não sei mais o que fazer, esse menino parece que… - e enquanto isso o pequeno garoto ouvia a conversa de longe, conformado. Era a mesma conversa que ele ouviu a vida toda. Demos isso, demos aquilo, não sei o que fazer. Ver os pais tentando resolver seu “problema” só deixava o pequeno mais triste. Tentava encontrar um lugar mais escondido onde pudesse não ouvir, de novo, aquela discussão. E na cozinha continuava a ladainha:
- É mas dessa vez as coisas estão indo longe demais, será que… - ding, dong tocou a campainha interrompendo. A mãe foi ver o que era. Pela janela viu ser uma garotinha. Foi até a porta ver.
- Bom dia, senhora, desculpe interromper seu dia, mas é que…
- Não quero comprar nada! - Disse a mulher.
- Não, senhora, desculpe, é que…
- Quem é? - gritou o pai lá do fundo irritado com a demora da esposa.
- Nada, é só uma garotinha que já está indo embora - respondeu ao marido e logo tornou à menina com uma cara de “não demore”.
- Senhora, é que eu tenho uma cadelinha que teve filhotes e esse aqui ninguém quis comprar porque ele nasceu meio feinho, mas acredito que…
- Garotinha, você veio aqui para me vender esse cachorro feio!? Não estou int…
- Não, senhora. Não é vender, é que…
- Não obrigada, tchau - e foi fechando a porta.
A menina após ser destratada sentiu-se mal e pousou um pouco na calçada, chateada, a pensar. O cãozinho era realmente feio, parado e não fazia nada. Ela largou ele no chão por uns instantes. Sabia que ele não ia sair dali. Era tão parado que podia ficar um dia inteiro no mesmo lugar sem sair nem para comer. Tinha um olhar de coitado e uma cor que parecia mais sujeira que pelo.
Ela imaginava o que seria da vida daquele animal tão pouco abençoado por Deus. Alguns minutos depois, recomposta da tristeza momentânea, levantou-se, pegou o filhotinho e… filhotinho!? Onde foi parar esse danado?
Olhou para os lados, nada! Desapareceu. Ela pensou até em ver se ele tinha entrado na casa daquela mulher, mas só de pensar em tocar a campainha sentia medo daquela “senhora”.
Ouviu o som da garagem abrindo e para não ser vista ali de bobeira na rua como se estivesse espionando saiu andando rápido para não ser notada. Por outro lado sentiu um certo alívio do animalzinho ter ido buscar por si mesmo seu próprio caminho. Pediu a Deus que abençoasse o caminho daquele bichinho, aliviada, e foi para casa antes que ele aparecesse de novo logo agora que ela estava liberada por Deus de achar um dono para ele.
Ouviu o carro da senhora passando veloz ao seu lado e isso foi tudo.
*** continua ***