Visita noturna

(do livro ''Partes da minha vida'')

Pensei que era uma simples paixão, mas me enganei, cheguei a lutar contra, mas ela não me saía da cabeça, todos os meus pensamentos iam e voltavam com ela, parecia estar preso, dei um tempo, não muito, não foram mais que um ou dois dias.

Era uma paixão impulsiva, esperei que ela passasse, mas não passou, eu acabei mais apaixonado, seus carinhos são provocantes, sua boca, suas mãos, esses tantos anos esperando uma mulher assim, já nem sei quantos se passaram.

Tentei não tocá-la, mas como ela me fazia gozar, era loucura e mais loucura, desde que a porta abria e até muito depois quando já estava no carro meus pensamentos ainda faziam amor como alucinado.

A madrugada está por chegar lentamente e eu a espero. Tentei ligar seu nome as outras coisas para me distrair, mas de nada adiantou, não conseguia desviar minha atenção, eu e meu corpo brigávamos constantemente com as lembranças, os desejos e os mais próximos gozos.

Notei a porta abrindo devagar, seu corpo apareceu em meio a uma sombra e o brilho de uma luz púrpura refletido pelo néon da placa de uma velha pizzaria da frente do meu prédio. Caminha devagar, sabe que estou esperando. Seus passos eram firmes, mas lentos, queria me fazer mais ansioso, fechei os olhos e esperei.

Estava deitado na cama todo vestido, inclusive de sapatos por cima da colcha que não sei o nome, era pano colorido e felpudo.

Suas mãos estavam frias quando tocou meu rosto, na sua boca, como sempre, aquele batom avermelhado, provocante, como tudo nela, o perfume invadia minhas narinas, era suave e marcante.

Não dissemos nenhuma palavra. Quando ela se abaixou para me beijar coloquei a mão dentro da sua blusa, ao mesmo tempo abracei puxando-a para mim, ela desequilibrou-se e caiu por cima do meu corpo. Ainda não tínhamos dito nenhuma palavra, nem precisava, os toques, os carinhos, misturavam-se aos poucos as ansiedades, as roupas iam desaparecendo dos corpos, uma a uma, ela tirava as minhas e eu as dela, o momento era diferente e igual aos sonhos de tantas esperas.

Os cheiros dos sexos inundaram o quarto, as bocas tinham gosto de desejo, as mãos indo e vinho ao redor do seu corpo, descobrindo caminhos, fazendo-a excitar e excitando-me ainda mais.

Arrasto meu corpo por cima do seu, procuro me ajeitar subindo e descendo entre suas pernas. Minha barba arranha suas coxas, enquanto seu corpo contorce freneticamente demonstrando todo o seu tesão.

Em algum momento tudo ficou diferente, penetrei fazendo movimentos rápidos, tudo era muito intenso, minha força a fazia gemer um pouco mais alto. Coloquei mais, parecia perder a noção do tempo, aliás perdemos a noção de tudo, nem mesmo sabíamos de que lado do mundo estávamos, variávamos entre o céu e o inferno.

Mais poucos segundos todos os raios, relâmpagos, magos, mágicos, todo o céu explodiu em gozo. Nossos corpos rolaram entrelaçados e trêmulos. Não sei qual foi o efeito, a saudade seria a causa ou seriam as lembranças? Ainda sem pronunciar uma única palavra ela soltou um último gemido, começando a relaxar, sua boca ficou encostada à minha.

Nossos lábios já não mais se beijavam, apenas ficamos ali por instantes, parados, imóveis, ainda sentindo o efeito do êxtase louco que nos fez ir aos muitos paraísos e lugares que só visitamos em certas ocasiões especiais, poucas vezes na vida.

Da mesma forma que entrou, levantou-se devagar. Começou a se vestir de costas para mim, em seguida sentou-se na cama, ainda de costas, calçou seus sapatos de salto, bico-fino e longo, mais uma vez olhou meu rosto, eu continuei ali deitado, ela parou mais uma vez antes da porta e disse: -Só vim dizer que está tudo acabado entre nós.

Saiu em silêncio, da mesma forma que entrou. Devagar sua imagem foi engolida pela sombra...

Boa noite

Mais algumas horas...

Deveria desprezá-la, já é de manhã, ainda não acordei direito, foi uma noite atípica, ela roubou meus segredos, desvendou minhas fraquezas e as levou, me levou embora com tudo que um dia construí, os sentimentos ficaram vazios.

Cada peça de roupa que ela vestia, era um pedaço daquele sonho de amor que não realizei, cada toque que não marquei no seu corpo. Fui pouco ou quase nada para aquela mulher.

Visto-me lentamente. Antes vou ao banheiro e não me olho no espelho, sei que tinha um recado, em outras ocasiões ela sempre deixava um carinho escrito com batom. Hoje nem consigo olhar o espelho, meu rosto deve estar apagado, nem sei se hoje amanheceu, para mim ainda é ontem.

Assim que me sinto depois da noite passada, alguns goles de vodka e muitas perguntas que não sei responder. Ela bateu a porta depois de se vestir e nada mais aconteceu dentro de mim.

Raspei as fantasias da minha lembrança, os sentimentos ela fez questão de apagar antes de sair. Então acabei fechando a morada que guardei por um tempo a paixão, o quase amor que deveria ser para sempre.

É de manhã, acabo olhando para fora da janela, só não consigo olhar para dentro da minha alma.

Ainda lembro ela tirando a roupa devagar, provocando sem medo, sem mentiras, tudo não passou de inverdades, ela não veio noite passada, apenas ligou e depois desligou meus pensamentos e tudo sumiu.

Enquanto preparo meu café ouço sua voz, a torneira aberta e o chuveiro ligado, tudo como ela fazia sempre, tudo de uma vez e nada de pressa, tudo bem devagar, controlado e me descontrolando quando estou perdendo a hora de sair.

Deixo cair os braços, os olhos vão até uma lembrança vazia procurando razão para tudo aquilo que aconteceu noite passada. Por que tenho segredos? Por que não tenho segredos? Por que a amo? Por que não me apaixonei antes? Será que fui amante demais ou de menos?

Ainda estou com raiva, mas a amo, sei que não deveria, sou um viciado, dependente desta louca mulher, louca desvairada e deliciosa mulher que tanto me faz feliz e infeliz ao mesmo tempo.

Ouço a porta, acho que são meus sentidos novamente me enganando, mas não, ela usa sua chave e entra, agora vem direto para mim, abraça e deixa suas lágrimas escorrer sobre meu ombro. Seus braços estavam frios, sua boca sem batom, acho que até sem sabor, sem nenhum cheiro, sua pele estava precisando ser agasalhada, assim como sempre fazíamos, um enrolando no corpo do outro.

Parei por uns instantes e lembrei tudo o que aconteceu noite passada, há apenas algumas horas, sua saída repentina sem se despedir, apenas aquelas palavras sem sentido, sem nexo, pois não sabia de nada, não fiz nada para aquilo acontecer. Não sei se poderia abraçá-la de novo e perdoar, o que teria para perdoar?.

Fiquei por um tempo relembrando tudo que aconteceu, minha solidão tão repentina e eu ali parado, seu corpo esperando para ser protegido, e agora?

Que diabos, nada é eterno, tomei-a em meus braços e a beijei como nunca...

Bom dia

11/04/2007

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 11/04/2007
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