Uma noite fria... literalmente.
Chovia muito quando cheguei em casa. Minha roupa ensopada, denunciava que eu não ouvi minha mãe ao sair de casa com o guarda-chuva dentro da bolsa. Eu estava suja e descabelada. Haviam noites que eu não voltava para casa e minha mãe já nem ligava mais para isso. Fui assim desde sempre e ela tinha plena consciência de que não poderia mais me mudar. Ela não sabia nada da minha vida e muito menos por onde eu andava. Quando entrei pela porta, minha mãe deu um sorriso de alívio.
– Tem comida pronta e quente em cima do fogão, filha. Vai tomar um banho e trocar essa roupa molhada. Deixa lá na máquina que eu lavo.
Apesar da minha mãe realmente não ligar para minhas saídas, mostrava afeto quando eu aparecia, raramente. Talvez ela quisesse só que eu mesma visse sozinha que a vida que eu estava levando, não era uma das melhores.
– Tá, mãe. Vou deixar essas coisas no meu quarto e venho jantar. Me espera.
– Tá, minha filha...
Quando coloquei meu prato e sentei à mesa, o meu pai chegou em casa, transtornado. Embriagado, propriamente dizendo.
– Ah, resolveu aparecer? Que ótimo, tem uma pia cheia de louça para lavar. – falou meu pai, fazendo eu ter nojo dele mesmo.
Eu só olhava. Minha mãe tentava amenizar a confusão que estava prestes a formar-se, enquanto eu comia, em silêncio. As brigas entre meu pai e eu eram constantes, simplesmente não nos dávamos bem. Não aguentei e saí de casa novamente, naquela noite fria, temendo encontrar alguém que me levasse novamente para o inferno.