Sentimento de mãe... Reencontro
Era fim de tarde na praça... Mãe e filha, sendo esta bebê de colo (carinhosamente apelidada de Bibi*) estavam passeando pela praça comemorando o aniversário da pequena cidade do interior, tudo muito pacato, pessoas aparententemente com o mesmo ideal, a diversão...
Muitos balões de diversas cores e formatos alegravam a garotada, bem como o carrinho de algodão doce, o pipoqueiro e o cachorro quente. O vento balançava as folhas das árvores e nelas refletiam os raios do sol que ressaltavam o lindo azul do céu.
Essa mãe de nome Dolores *, estava já bastante cansada de carregar a filhinha nos braços, já o pai da criança de nome *Oscar, estava na espreita pois já não convivia com elas e as observava de longe, pensava ele nesse momento em como seria diferente se sua vida tivesse tomado outro rumo e se ele tivesse valorizado a família que tinha. Mas sua realidade era outra e só conseguia vê-las assim sem aproximação, como um estranho, às vezes que se aproximava era sempre para criticar algo em relação a criação da filha pela sua mãe.
Como a praça estava cheia de conhecidos e vizinhos a mãe da criança se sentiu a vontade para interagir com outras crianças, apareceram diversas delas atraídas pela sua filha, uma criança linda, com cachinhos dourados e olhos azuis, boca rosada, mais parecia uma bonequinha de porcelana, em lugar algum passava despercebida, os olhos foram herança do pai, já os cachos dourados herança da mãe, uma criança fácil de conquistar e gostava de todos que se aproximavam. Diante dessa docilidade aproximou-se uma senhora muito simpática, apresentando-se para a mãe da menina como enfermeira do hospital local, elogios e troca de informações renderam-lhe meia hora de papo, o suficiente para aquela senhora conhecer a rotina de mãe e filha, tão confiante e persuasiva era que, a mãe da criança, a permitiu pegá-la em seus braços, em volta várias outras crianças brincavam.
Sendo essa mãe bastante solicita, viu um menininho chorar e quis saber o que se passava com ele e se poderia ajudá-lo de alguma forma, foi nesse mesmo momento em que aquela estranha segurava sua filha que Dolores abaixou -se para conversar com o menino, ele havia estourado seu balão e chorava desconsolado, quando ela se levantou para ir comprar outro balão para aquele menino percebeu um vazio onde estava sua filha e a mulher que a segurava, sentiu um frio na espinha que percorreu por todo seu corpo, suou frio, já não sentia o chão, esqueceu do balão do menino que continuava desconsolado, ela saiu correndo sem rumo percorrendo toda a praça em busca dos cachinhos dourados, suas lágrimas escorriam, todos a olhavam sem entender o que havia acontecido, o pai a viu desnorteada, mas não viu o que havia acontecido pois tinha saído da praça para fumar um cigarro no momento em que levaram sua filha, mesmo assim, percebendo algo estranho no olhar de *Dolores ele foi ao encontro daquela mãe pois a percebia sem a filha nos braços e chorando muito, aproximou-se dela e perguntou o que havia acontecido, em meio a soluços ela conseguiu sussurrar - Levaram nossa filhinha... Desmaiou...
Acordou no hospital da cidade com a imprensa em cima tentando conseguir informações do que realmente havia acontecido, algo que nem mesmo aquela pobre mãe conseguia decifrar...Oscar havia desparecido também, nunca mais Dolores teve notícias dele. Aquela mãe estava agora sozinha como nunca havia estado. Então nesse momento passou um filme em sua cabeça, como o dia em que soube que estava grávida, a compra do primeiro sapatinho rosa ao saber que teria uma menina... A escolha do enxoval completo, as dores do parto, ver o rostinho de sua menina ao nascer... O primeiro sorriso... Dias de febre e noites sem dormir, quem é mãe sabe que estas noites apesar de cansativas marcam para sempre pois só as mães possuem esse dom de virar a noite esperando a melhora de um filho e ainda assim conseguir falar disso sem se revoltar, lembrava nesse momento de seus cachinhos dourados e uma lágrima desceu, indagou: - E agora? O que farei sem minha filhinha? Clamou a Deus por uma solução, pelo fim daquele pesadelo. Infelizmente o pesadelo não era ilusão, e estava apenas começando o martírio. Dolores vivia distante de familiares que moravam em outras cidades e recebeu muitos telefonemas e algumas palavras de tentativa de consolo, mas não era esse o consolo que ela buscava e sim solução para o sumiço de sua filha.
Iniciaram-se então as buscas, retrato falado daquela mulher que levou sua filhinha foi feito, *Dolores lembrava de cada detalhe da face daquela mulher, cada traço, cada linha de expressão, cada sinal e ainda uma verruga pequena em seu queixo, tinha ainda cabelos crespos, entretanto, bem tratados e tingidos de um ruivo fechado, boca de lábios finos, pele rosada, aproximadamente 1,65 m, 55 Kg, pele bem tratada, parecia ter boa situação financeira. Policiais viraram rotina em sua residência, todos os dias saiam e entravam em busca de novas informações e pistas, tudo poderia ajudar a desvendar o segredo daquela mulher misteriosa, e as investigações começaram a se arrastar por meses... 01 ano... Isso mesmo, um ano se passara, e nada de notícias do seu bebê que agora estaria com 2 anos e 06 meses, pois na época tinha apenas 1 ano e 06 meses, a aflição daquela mãe aumentava a cada telefonema falso, pessoas de má fé e baixa índole passavam trote para aquela mãe que como já não bastasse o sofrimento que passava, ainda precisava lidar com a dureza do coração humano, alguns trotes eram tão reais que levavam a polícia até o local para fazer buscas e aumentavam ainda mais a angústia de *Dolores.
A verdade é que *Bibi foi criada por outra pessoa, a mesma que a tirou dos braços de sua mãe que foi privada de dar todo carinho que destinava para sua filhinha de cachinhos dourados, a privou de fazer seus cachos ficarem perfeitos para passear naquela mesma praça talvez... Dolores nunca mais se envolveu com outro homem, ou teve outros filhos, viveu toda sua vida para tentar encontrar sua filha, a vida não fazia sentido para ela, pensou algumas vezes em tentar suicídio, mas a vontade e a esperança de um dia encontrar *Bibi novamente lhe dava forças para continuar sua vida, e assim ia levando, superando cada ida e vinda do trabalho para casa e de casa para o trabalho, tentando sobreviver, anos foram se passando e *Dolores chorava a cada aniversário que se passava de sua filha, imaginava que poderiam estar comemorando, não sabia como ela estava sendo tratada, se comia ou se bebia, ou ao menos se estava viva. *Bibi foi rapitada por *Eva, esse era o nome daquela estranha, uma senhora que não tinha parentes, não se relacionava com pessoas a não ser para conseguir o que queria como o fato de roubar *Bibi de *Dolores, após isso isolou-se, vivia em uma fazendinha distante da cidade em que raptou a menina,. Os anos foram se passando e nada de desvendar o caso de *Bibi, o tempo percorrido foi de 17 anos, até que *Eva precisou ser hospitalizada às pressas e detectada com uma espécie de doença rara e degenerativa em que os médicos lhe deram apenas 02 meses de vida, *Eva pediu para chamarem sua filha adotiva *Beatriz, a mesma que havia raptado há 17 anos atrás para lhe contar a verdade que há anos escondia, não obstante em seu leito de morte *Eva já estava bastante debilitada e não durou mais que 03 dias dos 02 meses que os médicos haviam lhe dado, então ao revelar para *Beatriz que a havia raptado dos braços de sua mãe legitima e roubado a felicidade de *Dolores, contou também como poderia encontrá-la e em meio a soluços de ambas e arrependimento talvez da parte de *Eva, esta deu seu último suspiro trazendo junto com ele o novo suspiro para *Dolores e Bibi que estavam prestes a se reencontrarem, mãe e filha com seus cachinhos dourados, após 17 anos de espera...
*Nomes fictícios