Cão bravo perdido: A quem achar, sinceras desculpas.
Durante minha vida eu conheci diversas pessoas. Umas boas e outras nem tanto, mas é a vida.
Certa vez ouvi dizer que a vida é como uma grande horta. Ela pode esta linda e verde, a vida pode estar pulsando nela. Mas uma coisa é certa, debaixo sempre tem merda.
Quando eu estava me convertendo ao Mormonismo, conheci um missionário da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e certa ocasião ele me confessou, meio acabrunhado, que ser missionário era uma questão de fé, amor, mas principalmente, de paciência.
A pessoa tem que abrir mão de muitas coisas e às vezes até da canela!
- Oi Irmã! , dizia ele sempre com um sorriso, nós podemos deixar uma mensagem para você?
As pessoas, educadas é claro, costumam aceitar essa primeira abordagem. Afinal de contas, dificilmente alguém refuta um sorriso. Ademais ele era meio "fofinho" (100 quilos) e alegre por natureza. Isso facilitava em qualquer abordagem.
Pois bem, estavam eles falando sobre a Igreja e suas verdades. Sobre a restauração dos princípios cristãos e de todas as grandes obras realizadas pela igreja quando um cachorro apareceu na escada.
O Cão é um bicho engraçado, além é claro, de ser muito parecido com o ser humano. Sabem por que? Ora, por que quanto menor o desgraçado é, mais mal humorado ele se torna.
Inúmeros amigos meus tinham relatos e afirmações sobre os baixinhos. Ouvia diversas histórias sobre o mal humor, principalmente das mulheres baixinhas. Mas uma delas, relatada por um grande amigo meu, com referência a noiva ele, ficou gravada em minha memória. Primeiro por que ele afirmava tudo de uma maneira muito concisa e depois, por que eu conheci a noiva dele.
- As mulheres baixinhas são assim por que o nariz fica mais perto da bunda. São as primeiras a sentir o cheiro do peido delas e dos outros.
Após isso seguiu um extenso e laborioso discurso acerca dela.
Obviamente que depois daquele dia eu passei a temer a noiva dele.
- Aquele cachorro morde, irmã? – indagou o Élder, pois assim são chamados os missionários da igreja.
- Não, de maneira alguma! Ele é mansinho.
Mansinho? Mike Tayson era mansinho!
Pois bem, conversa vai e conversa vem, mas nada da mulher convidá-los para entrar. E passado um certo tempo, acharam que seria melhor regressar um outro dia. Assim sendo combinaram de no outro dia ir novamente até a casa dela.
Estavam contentes e ansiosos, pois lhes é peculiar tais atitudes. São felizes naquilo que escolheram fazer.
Bateram palmas, mas nada.
Chamaram, mas nada.
Entristecidos, deram meia volta e começaram a conversar sobre o ocorrido.
- Pena que ela não estava. – comentou o Elder com um típico sotaque americano.
- Ás vezes até estava, mas não queria atender.
- Será?!
- As pessoas às vezes são assim: gentis em uma ocasião e covardes em outras.
- Aquele não é o cachorro dela?! – interrompeu o americano ao ver o “cãozinho” se aproximar.
- É mesmo! Oi cãozinho!
Amigos, já encurralaram uma ratazana no canto da parede?
Já gritaram com uma mulher menstruada?
Já gritaram "GOL" no meio da torcida adversária?
Então já podem advinhar como era a tal criatura.
Digo “criatura”, pois aquela praga avançou na direção do Elder como se ele um suculento pedaço de carne. Obviamente que ele não ficou parado, mas quando deu por si, o diabinho já havia cravado todos os dentinhos em sua canela.
Houve agitação, chute, gritos, grunhidos, caretas e pedidos de socorro. Mas de nada adiantou.
Algumas pessoas riam, outras somente olhavam e ficou nissopor algum tempo. Até que, de súbito, o Elder americano, depois de calcular a distância e acertar a pontaria, desferiu um belo e potente chute nas costelas daquele cão bem ao estilo de um Quarterback de futebol americano.
O chute foi tão forte e tão bem aplicado que o animal subiu uns dez metros de altura e caiu do outro lado da rua. Mais um pouco (e se ele estivesse em um campo) teria feito um gol.
O diabinho fugiu como um covarde que era aos gritos de “Ai! Ai! Ai!”.
Enquanto o coitado e aturdido missionário se recuperava do susto e vermelho como um morango enxugava o seu suor. Foi quando apareceu a senhora que era a dona daquela criaturinha.
- Olá! O que houve?
- O cachorro da senhora me mordeu.
- É mesmo?! Então vejo que você o achou. O danadinho tinha fugido ontem de noite. Onde ele está? Preciso lhe dar um pouquinho de comida coitadinho.
O Elder levantou-se, olhou bem nos olhos daquela mulher e disse, ainda ofegante.
- Minha senhora, fique com Deus e passar bem!
Foi embora mancando e com o orgulho ferido por ter sido atacado por aquela fera da raça Pincher.