A Mulher do Tempo
Aquela nobre senhora fecha os olhos ao vento morno do meio da tarde que balança os seus cabelos virgens de tinta e encaracolados, grisalhos. Aquela senhora fecha os olhos e lembra-se de tudo. Lembra-se de ti, de mim.
Então aquela mulher abre os olhos quando sente o sol esquentar toda a sua pele em extensão, já manchada pelo mesmo amigo sol e marcada pelo tempo. Seus lábios vermelhos soltam um sorriso.
Aquela mulher vira para o lado e sente a grama verde envolver todo o seu corpo num abraço. E ela esquece de todas as inseguranças e incertezas da meia idade. Ambos deitados lado a lado.
Então aquela ruiva moça levanta os olhos e se vê na primeira estrela que aponta no céu. A sua palidez parece com a daquela estrela brilhante, perdida na imensidão.
A garota acha a sua rebeldia tatuada em forma de penas e teias de aranha. A flor nas costelas custou caro, mas valeu a pena.
A menina levanta-se com um salto e corre até o lago. Ela vê sua face de criança na ondulação da água e brinca com borboletas e lagartos.
Ela fecha os olhos para a tarde fria que termina, seus cabelos encaracolados voam ao vento e ela abre os olhos novamente e vê a mim, a ele e à sua face já enrugada e desgastada pelo tempo.
Ela se prende aquele momento como se prendia à todos aqueles que pra sempre queria. Mas ela tem calma, a calma que tanto necessita e tem tudo o que sempre pedia. Tem tempo, pena que não resta mais tanto tempo.