Ele reunia suas forças para repetir uma única frase: "quero ir para casa".
Ele não despertava mais esperança nos médicos e, confesso, nem em mim. Eu sentia que ele estava partindo, que estava ciente disso e que queria a segurança imaginária que seu lar proporcionava; que lá, a doença o abandonaria, pois era seu espaço de vida e, nele, a morte não o tocaria com seus braços frios.
Ou, ele queria apenas partir depois de ver, novamente, o espaço que dele guardava recordações felizes.
Um últmo desejo. Um último pedido não atendido. Preferimos continuar tentando ali, no hospital. E ele fechou os olhos pela última vez em um lugar no qual para seu bem, as pessoas lhe causavam dores com tantas agulhas, com tantos instrumentos invasivos e, principalmente, com tanta impessoalidade.
Para seu bem? O quarto particular gerava lucros, os médicos sabiam que ele não ficaria curado.
Para "seu" bem? Não. Para o bem de quem o rodeava e estou entre essas pessoas, pois não aceitava perdê-lo.
O amor reveste-se de egoísmo, por vezes.
Quando vamos aprender a amar de verdade? Estou tentando, pai, estou buscando esse amor que suporta perder... Perder por amor e tranformar a perda em ganho.
Vez em quando, olho para uma roupa e vejo que se vesti-la do lado avesso, ela me deixará mais apresentável.
Estou aprendendo...




 
miriangarcia
Enviado por miriangarcia em 16/08/2013
Reeditado em 16/08/2013
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