São 4:30 h, ainda bem nem deitou, já está na hora de Antonia levantar. Sem pensar em mais nada, vai para o fogão para deixar pronto o mingau dos meninos, que às 6:00h saem para escola. Além do mingau, deixa um arroz e feijão prontos, para que o maior só esquente, quando chegar.
Sacode as rotas cobertas, cobre a cama e vai arrastanto seu velho chinelo. Para o sol ainda é muito cedo, mas para ela não. Toma trem das 5:15h e segue para a casa da patroa. Lá vai encontrar um dia inteiro de serviço. Roupa, comida, faxina, uniforme das crianças, tudo, tudo é por sua conta.
O mais interessante de tudo, que Antônia está sempre sorrindo. Ela costuma dizer que chorar não paga dívidas, sempre sorrindo.
Seu marido, foi embora, quando viu que o seu dinheiro não sobrava para a pinga do bar da esquina, e assim preferiu abandonar a casa, Antonia e seus três filhos.
Nos primeiros dias, a mulher ainda se lastimou, mas depois, quando viu que os filhos dependiam somente dela, ergueu os ombros e foi à luta.
Deixou a lavagem de roupa para os domingos e buscou uma forma de ganhar um poucos mais.
Com pouca escolaridade, restou a casa da madame como solução. E lá está essa sofrida mulher enfrentando sua vida sempre com um sorriso.
Quando chega no fogão, agradece a Deus o pouco, mas certo alimento, e o que ganha dá para acertar a venda do seu Manoel e as outras despesas, sempre controladas.
Marcinho, o maior, já ajuda o amigo Janjão no carrinho de doces, mas somente depois que vem da escola, que por sorte fica perto de casa.
Janjão, um quase primo, ajuda a olhar os outros menores, para que Antonia possa trabalhar.
Os filhos de Antonia, crianças inteligentes, nunca perderam um ano na escola, pois a mãe faz questão de, com o pouco que sabe, exigir que façam tudo certinho.
Recebe ajuda de Rosa, que é irmã mais velha de Janjão e já no ensino médio pode auxiliar os pequenos nas lições.
Sempre que chega na casa da patroa, Antonia a encontra deitada, deprimida, com os olhos inchados de tanto chorar. Bem de vida, com boa saúde, Ione, não consegue sair dessa tristeza e não entende como Antonia, que nada tem, pode viver assim, trabalhando e cantando como uma cigarra.
Aí, a empregada sempre sorridente, responde: D. Ione, chorar não paga dívidas, não.
Regina Madeira
"imagem do Google"