Maldita estrela cadente
Era por volta das vinte e duas horas de um sábado no mês de janeiro. Estávamos deitado em uma grande lona amarela no quintal de casa quando avistamos uma estrela cadente a riscar o céu e um dos meus colegas logo disse:
- Olhe, Aninha! Olhe, Aninha! Lá no céu. Uma estrela cadente. Faça um pedido, pois se perdir e acreditar, com certeza irá se realizar.
- Onde está tal estrela que não estou vendo? Onde, Zezinho?
- Ali! Próximo daquela estrela brilhante e enorme. Disse a pequena
criança apontando em direção a estrela cadente.
- Ah! Agora eu posso vê-la! Hmmmm.... Melhor fazer esse pedido logo! antes que a estrela se vá para sempre e sem saber do meu desejo.
- Eu já fiz meu pedido desde o momento em que a vi! Qual foi o seu pedido, Aninha? Pode me dizer?
- Como assim te dizer!? Disse Aninha um pouco sem graça.
Menina esperta como ela, só para mudar o assunto, ela perguntou ao Tuca se ele tinha desejado alguma coisa. Tuca olhou para ela tão friamente e disse:
- Não acredito nessas coisas! Mamãe disse que: se eu quiser algo, terei que trabalhar bastante para tê-lo. A única coisa que fiz foi admirar a estrela, pois não serão todos os dias em que nós poderemos ver isso constantemente.
- Meninos, Aninha e Mia! Hora da leitura e depois direto pra cama! Disse a minha mãe.
Os meu colegas foram ler um livro, assim como eu também. Escolhi um livro de aventuras e também assim o fez, Zezinho e Tuca. Já a Aninha preferiu um livro de conto de fadas que o meu pai tinha dado a minha irmã. Sinceramente, não vejo o porquê delas gostarem de ler conto de fadas. Os livros de aventuras têm as melhores estórias e se aparecer alguém dizendo o contrário, eu não dou bola! Ah, já estava em esquecendo! Minha irmã, a Mia, foi assistir televisão com o meu pai na sala de estar.
Muitos anos se passaram após essa ocasião. A Aninha já não mais gostava de ser chamada pelo diminutivo carinhoso e sim, por Ana Fernanda. O Tuca trabalhava como entregador no sacolão do senhor Nicolau. Zezinho e eu ainda somos muito amigos. Jogamos bola todo final de semana e somos o terror dos times que jogam contra o nosso time. Teve até um jogo em que ganhamos de doze a zero.
Certa noite, após termos jogado contra o time da Vila Santa Mariana, o Zezinho me confessou algo:
- Você se lembra daquele dia em que estávamos deitado em uma grande lona amarela para ver se a gente via alguma estrela cadente? Pois, então, sabe qual foi o pedido que fiz? Pedi que a Aninha fosse a minha namorada algum dia.
- Sério? A Aninha sempre gostou do Tuca, você não via isso?
- Como eu ia saber? Eu só tinha olhos para ela. Como ela era e ainda é bonita, pena que...
- Pena? Como assim?
- Você deve se lembrar que eu perguntei a ela sobre o que tinha desejado naquela noite e ela desconversou... Eu, um dia desses aí atrás a convidei para irmos na festa da Mira. Ela já estava convidada e eu não sabia. Fomos a tal festa e nos divertimos à beça. Quando estávamos prontos para voltar para nossas casas, eu a perguntei sobre aquela noite.
- Eaí, Aninha! Quero dizer: Ana Fernanda. Se lembra daquele dia em que vimos aquela bela estrela cadente e fizemos um pedido? Eu pedi que fosse minha namorada um dia. Gosto de você há muitos anos. Qual foi o pedido que você fez?
- Nesse momento a Ana ficou tão sem graça que nem respondeu a pergunta que fiz. Apenas disse: ‘Éramos crianças’. Ela voltou com o Tuca e eu fui para casa todo desanimado. Nutri uma paixão por anos e para nada! Quando era por volta das três horas da madrugada, eu recebi uma mensagem no meu celular. Olha o que ela escreveu.
- Deixe-me ver isso!
“Zezinho, sei que você gostava de mim e já havia percebido isso há alguns anos atrás. Eu tentei, de algumas maneiras, te dizer que não era você quem eu gostava, mas você não via o que estava bem na sua cara. Pela nossa amizade, a qual eu valorizo, vou te dizer o que desejei naquela noite: eu desejei que você fosse meu amigo para sempre! Você é como se fosse um irmão querido. Eu estou namorando com o Tuca há algumas semanas e espero que encontre alguém que te queira assim como você me quer. Um grande abraço. Ana Fernanda”
- Kkkkkkkkkkkk..... Não foi por falta de aviso. Eu já tinha te dito isso, seu zé mané!
- Pois é! Maldita estrela cadente!
- Maldita estrela cadente, Zezinho!