Guarda-chuva quebrado

Agora já não tem mais jeito. E rituais comuns se tornaram nostálgicos. Como você conseguiu fazer isso? Destilou todo um poder que eu nem vi pairar sobre minha cabeça. Mas não reclamo disso. Apesar de me matar aos poucos, são as lembranças que me mantem vivo. Outras musicas apareceram. Aprendi novas letras. É sem sentido, eu sei. Nunca terei a oportunidade de canta-las pra você.

Tudo é fruto da minha imaginação… Queria dizer seu nome. Mas ele parece ter algo de errado que me dói. E vou repetindo, tentando evitar de dizer nem sequer a primeira letra.

Só sobrou o que minha mente consegue lembrar. Nada mais restou. Quando voltava para casa, você estava sempre a minha direita. Estou sozinho agora. Cabeça baixa. Eu nem vejo mais o caminho passar. Só continuo andando no automático. Sei onde vou chegar. Mas minha mente tem outro lugar em que gostaria de ir. Sua casa, sua cama, seu corpo. E eu vou fazendo as coisas unicamente pra não jogar toda minha vida fora. Mas é como se eu não visse futuro no que faço.

Seu cheiro também não existe mais. Me esforço bastante pra conseguir lembrar. Curiosamente, o meu perfume que você gostava, também acabou. Gastava bastante. Bastou sua expressão inebriada e eu sabia que tinha gostado. Acabou. Como acabou o cheiro que deixava em todo meu corpo. Seu cheiro. Que ficava em mim, nas minhas roupas. Talvez seja até melhor que não tenha seu cheiro pra me lembrar de como era bom ter seu corpo colado no meu.

Seu ciúme. Ciúme sem motivo, por sinal. Mas você não tem ideia de como me deixava aliviado ver você se importar a ponto de ficar brava por coisas que eu nem percebia que fazia. Ter a certeza de que voce reamente gostava de mim, que realmente se importava, que realmente me queria. Suas broncas porque eu nunca saio com casaco, não importa quanto frio faça e quanto frio eu consigo fingir que não estou sentido. Num simples chuvisco, você abria aquele guarda-chuva quebrado e eu tinha que segurar, mais alto que você. O modo que se preocupava e avisava que era muito ciumenta, que eu devia ter cuidado. Só conseguia rir e pensar no quanto eu me sentia bem, feliz e seguro contigo do meu lado.

Não te vejo desde que me recusou novamente. Te ver vai reavivar outras cenas, outros cheiros. Que só nós dois podemos lembrar, podemos sentir. Cada vez, marcada na memoria. Que memoria foi só o que me sobrou pra ter você. Não importa quantos textos escrever. Nunca saberá que eles existem. Logo também não lembrará mais que um dia houve nós.

Agora não tem mais jeito… Mas eu não quero jeito. Quero você. Não quero lembranças. Quero novas histórias. Teu sorriso, teu êxtase, teu amor. Agora não tem mais jeito… Mas eu fico aqui por ti, como cada lembrança.

Jeff Mendes
Enviado por Jeff Mendes em 11/08/2013
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