Coisas que jamais voltarão

Sem querer, acabo de colocar para tocar pelo site Youtube, uma canção que marcou uma época maravilhosa de minha vida; eu no auge dos meus 17 anos, dono de si (eu acreditava mesmo nisso), ganhando mais dinheiro que muitos pais de famílias, livre, determinado, absoluto. Corria o ano de 1995, era final de ano, início das férias e essa música... haaa essa música, continua grudada em minha memória, hoje, mais do que nunca.

Movidos a Rum Montilla com Coca-Cola (conhecido em nossa região como cuba-libre), uma bebida feita a base de rum com refrigerante de cola e limão, a conversa rolava solta, os sonhos se resumiam a uma noite, as vozes se alteravam e quem pouco tocava violão, tornava-se um astro do rock ‘n roll.

O “Zé” era o cara, boa pinta, (apesar das pernas tortas), bom papo, (a maioria lorota), e tocava violão, três ou quatros acordes, era o suficiente, afinal, ninguém sabia mais que ele. Fã incondicional de Guns N' Roses, sem saber uma única palavra em inglês, tocava Losing My Religion, acompanhado por todos e ao final era aplaudido entre assovios e gritos de “de novo, de novo” e ele atendia, e a noite seguia, e a canção era repetida dezenas de vezes.

Era uma época muito boa, a época das descobertas, das conquistas, das paixões, dos conflitos motivados pelas paixões, da tristeza do não e da alegria do sim; muitas vezes, muitos sins na mesma noite; época do amor livre.

Eu era o típico mineiro, “come-quieto”. Ficava no meu canto observando o desenrolar das conquistas e ao final, depois de muito observar, procurava aquela que durante a noite levara muitos nãos e estava disposta a não voltar para casa sem faturar uma única conquista; eu estava lá para garantir isso.

Apesar de o grupo contar com mais de 50 pessoas, cinco eram cúmplices; parceiros, idolatrados, dedicados e fieis; parceiros para toda vida, acontecesse o que acontecesse. Foi uma época boa, jamais inigualável.

O “Zé” ainda toca; não mais com os rompantes e desejos da juventude, mas por mero prazer, casou, teve filhos, descasou e voltou a se casar, desta vez com a mulher da sua vida, a única, aquela que certa vez ele tentou carregar e acabou caindo com ela em uma poça d’água, depois de uma noite chuvosa.

Os outros? Estão por ai. Nem todos. Alguns partiram. Depois que os “barrados no baile” se separaram. Cada um seguiu um caminho. Eu quis continuar com a loucura de ser escritor. O Ed, com a loucura de ser jogador de futebol. O jú, com a loucura de ser top, chegou a ir tentar a sorte na Itália, mas retornou. O quinto elemento dessa que foi a mais perfeita formação humana de todos os tempos? Abusou da velocidade; era algo comum; sempre fora o mais destemido do quinteto, até que uma curva silenciou sua valentia.

Eu não estava lá, que sorte, não queria ser testemunha desse fim. Agora o quarteto continua ai, separados mas ainda vivos; cada um correndo atrás de seus sonhos, dia após dia, faça sol ou faça chuva, como deve ser.

Luciano de Assis
Enviado por Luciano de Assis em 09/08/2013
Reeditado em 12/09/2013
Código do texto: T4427240
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