NO TÚNEL DO AGORA

De repente, observei tratar-se da mesma calçada.

O sino, aliás o mesmo sino, badalava uma meia hora qualquer, como tantas dessas que já soaram nas nossas vidas...

Olhei para o casarão a minha frente e por frações de segundos senti que voltei a ser menina.

Tive vontade de subir as escadas e me anunciar, abraçar aquela gente tão boa que não via há tanto tempo, e contar minhas histórias, como tantas outras que já havia contado, sentada naquela varanda, a balançar meus pés de criança para a rua.

Alí, suas paredes nos conhecia a todas e ainda guardava o cheiro do nosso viço, o ruído dos nossos sorrisos, o cantarolar das nossas fantasias...a euforia das nossas férias, a ilusão da vida futura!

No chão, os mesmos ladrilhos, ainda tilintavam os surdos ruídos dos saquinhos de areia, nosso joguinho preferido de infância. E me lembro...como eu era ágil naquilo!

Mais meia hora soou , a me roubar a lembrança, concomitantemente à abertura da janela do casarão.

Uma mulher me sorriu.Não a pude reconhecer.

-Bom Dia, procura por alguém?

Ela não entenderia se lhe respondesse que procurava por mim.

-Não,Senhora.Parei para olhar suas flores.Lindas, aliás.

Agradeceu-me com um sorriso, e então, continuei pela mesma calçada, a enveredar pelo meu outro túnel... o túnel do agora...