VIZINHA TENTAÇÃO
O dia na delegacia transcorrera numa calmaria incrível, quando já perto do início da noite, duas mulheres histéricas, contidas a custo por três policiais, adentram à sala do delegado Maranhão. Uma é de corpo atarracado e cabelos curtos e grisalhos. Ao contrário, a outra é jovem, esbelta e ostenta uma cabeça com longos fios louros, porém, as duas exibiam o corpo cheio de hematomas.
— Venha aqui, sua sirigaita, eu ainda não terminei. — Gritava a senhora baixinha e corpulenta — vou acabar com a tua raça!
— Eu é que ainda não acabei com você, tribufu! — Redarguia a oponente — Se estes policiais não estivessem me segurando, eu...
O delegado, um mulato meio calvo, fez uma careta aborrecida e exigiu:
— Tenham calma, senhoras, senão mandarei prendê-las por desacato à autoridade.
Nesse momento outro guarda fez entrar um homem alto, magro e de uma careca bem lustrosa, acompanhado por uma jovem cabisbaixa e um adolescente que parecia indiferente à confusão.
— Com licença, doutor, meu nome é Valdir, sou marido da Carmem — e apontou para a mulher atarracada — e esses são nossos filhos. Acho que posso explicar o que aconteceu.
— Muito bem — disse o delegado — então comece, senhor Valdir.
— Tudo começou quando essa moça aí se mudou há cerca de quatro meses para a casa em frente onde moro com minha família.
***
— Olá, me desculpe por incomodá-lo, meu nome é Anete. Sou a nova vizinha aí da frente.
— Muito prazer, Anete, meu nome é Valdir. Em que posso ser útil?
— Bom, é que acabei de me mudar e não tem nada em casa. Será que você poderia me emprestar um pouco de açúcar?
Carmem, que chegara rápido à porta, logo se intrometeu na conversa:
— Aqui não tem açúcar, querida, o Valdir e eu somos diabéticos.
— Ah, tudo bem, senhora — disse Anete com gentileza.
— Esta é a Anete, Carmem. Ela é nossa nova vizinha.
— Você é casada, meu bem? — Perguntou a mulher corpulenta.
— Sou solteira, mas adoraria arranjar alguém tão simpático quanto o seu marido. Preciso ir agora, até mais tarde!
Durante o almoço de domingo em família, o assunto à mesa era a nova vizinha:
— Vocês viram como a nossa nova vizinha é bonita e educada?
— Vi sim, Valdir — redarguiu a esposa — eu vi como ela deu em cima de você.
Kevin, o filho adolescente, não se fez de rogado e logo anunciou:
— Eu já me apresentei a ela. Puxa, equela Anete tem umas coxas!
— Parem com isso vocês dois. Por que vocês não podem ser iguais à Carina? Como vão as coisas na faculdade, minha filha?
— Estou estudando muito, mamãe — respondeu a moça de cabelos negros e lisos, e fisionomia um tanto austera.
Dias depois...
— Aonde vai com essa escada, Valdir?
— Vou dar uma olhada no telhado da Anete, Carmem. Ela me pediu para trocar umas telhas quebradas.
— Hum, sei.
Num sábado à tarde...
— Valdir, corra até aqui ao portão. A sua boa vizinha está quase pelada perto do nosso filho.
Kevin ajudava Anete a lavar o pequeno automóvel de sua propriedade na frente da casa. A jovem usava apenas um short mais curto do que o convencional e uma camiseta que deixava entrever o contorno dos seus belos e opulentos seios.
— Ora, Carmem, não exagere — argumentou o marido — hoje está muito quente mesmo. Pare de implicar com a Anete.
Semanas depois...
— Cadê o Kevin, Valdir? — Indagou Carmem temendo o pior.
— Não sei. Ah, espere, parece que ele tinha dito que iria ajudar a Anete a montar uma cama hoje.
— Mas o que é isso! Todo mundo aqui em casa agora virou empregado daquela mulher? Basta Valdir! Eu vou buscá-lo e não tente me impedir.
Enquanto a mulher passava pelo portão soltando faíscas, o telefone tocou:
— Pai, sou eu, o Kevin. Estou na casa do André e vou demorar um pouco.
— Pensei que você estava ajudando a Anete com a cama.
— É amanhã, pai, tchau.
Carmem encontrou o portão da garagem da vizinha aberto e entrou na ponta dos pés, sem fazer barulho.
— Ai, meu Deus! — Gritou a mulher atarracada ao chegar à sala.
Anete estava sentada em um sofá branco tendo Carina em seu colo. As duas estavam aos beijos e amassos.
Dona Carmem pegou Anete pelos cabelos louros e a arrastou para a rua, enquanto Carina fugia assustada. Quando os outros vizinhos perceberam que as duas mulheres iam se matar a tapas, mordidas e unhadas, alguém chamou a polícia para apartar a briga.
.***
Depois de ouvir toda a história, o delegado Maranhão deu uma bronca geral e liberou o grupo. O fuzuê havia terminado, felizmente sem mortes.
No mês seguinte ao incidente, Anete já estava de mudança.
Carina teve de confessar que a loira estonteante não fora a sua primeira aventura amorosa com o sexo feminino: “O meu negócio é pegar mulher, mãe” assegurara a moça.
Graças a Anete, dona Carmem pôde descobrir a filha lésbica.
Uma lição ou uma reflexão?