O HÍMEN DA EMPREGADA

Maria da Luz é empregada doméstica com carteira assinada. Há seis anos trabalha para o casal Jorge e Laura e sempre fora tratada com muito respeito pelos patrões. Na verdade, Maria e dona Laura, uma mulher magricela e de rosto já meio enrugado, tinham ao longo da convivência se tornado amigas íntimas, ou pelo menos era o que Maria pensava.

A moça, uma morena de corpo benfeito e lábios carnudos, é alegre e extrovertida. Ainda não atingiu os trinta anos e para a felicidade dos vários pretendentes, a bela doméstica é livre e desimpedida. Aproveitando seu dia de folga, vamos encontrá-la em casa da cunhada, ela parece aflita ao comentar:

— Tô te falando, Alzira, o marido da dona Laura perdeu a vergonha. O velho não para de olhar para as minhas pernas e agora deu para ficar elogiando tudo o que eu faço. Ele até já me convidou para sair.

— Não acredito, Maria — redarguiu a cunhada um tanto obesa e de bochechas rosadas — o seu Jorge sempre me pareceu tão respeitador.

— Pois é, também achava, mas se eu vacilar ele me agarra na cozinha mesmo, não é brincadeira não, Alzira.

— Credo! Diz pra ele que você tem namorado.

— Ele sabe que eu não tenho.

— Bom, então conte tudo para a sua patroa, ou melhor ainda, denuncie-o por assédio sexual. Assim ele te deixa em paz.

— Ficou maluca, mulher! Acha que a dona Laura vai acreditar em mim? Na certa irá pensar que eu é que estou dando em cima do santinho do marido dela. Além disso, não quero fazer escândalo na justiça. Você sabe, Alzira, a corda sempre arrebenta pro lado de quem é pobre. Não posso perder esse emprego, tô cheia de conta pra pagar. O melhor a fazer é ter uma conversa séria com esse velho tarado.

No dia seguinte, Maria chega de manhã à residência do casal e encontra Jorge na cozinha.

— Cadê a dona Laura?

— Ela foi fazer compras, estamos sozinhos, querida — falou o homem de cabelos brancos e sorriso sarcástico.

— O senhor precisa parar com isso, se a dona Laura descobrir eu perco meu emprego e o se...

— Calma, Maria, não quero que você vá embora. Na verdade eu estou disposto até a aumentar o seu salário, bastando para isso que você aceite ir a um motel comigo apenas uma única vez, e aí...

— Ora, seu... O que pensa que eu sou, Jorge?

— Uma virgem, Maria. Laura me contou que tu disseste a ela que ainda é virgem, porque quer esperar pelo cara certo. Eu admiro a sua decisão, menina, mas, por favor, deixe-me provar que eu sou o homem certo, afinal experiência não me falta.

— Velho sem-vergonha!

Sem esperar resposta, a empregada sai correndo da casa e, meio desnorteada, chega ao portão de acesso à rua. Um som estridente de buzina a desperta:

— Ei, Maria, vai aonde? Quer uma carona?

O playboyzinho magrelo de olhos castanhos e cabelos encaracolados é Osvaldinho, o filho do casal, que acabara de chegar.

— Entra aí que eu te levo, gata.

— Mas você acabou de chegar, Osvaldinho.

— Não importa — abriu a porta do carro — entre.

A mulher se acomoda no banco do passageiro.

— Para onde vamos?

— Pra qualquer lugar, Osvaldinho. O que eu quero é sair logo daqui.

— Mas o que houve?

— Escute, sem perguntas, tá legal?

O rapaz, que já ia entrando pelo portão, meneia a cabeça em sinal de positivo, engata a marcha a ré e o automóvel novamente dispara. Depois de rodarem alguns quilômetros, tempo em que ambos permaneceram calados, Osvaldinho para o carro em um terreno baldio. As portas do veículo permanecem travadas.

— Esse terreno é do meu pai, Maria. O coroa ainda não decidiu o que fazer com ele.

— E daí?

Osvaldinho encara a moça com aquele olhar cobiçoso de quem tem os olhos em chamas e começa dizendo:

— Olha, gata, faz tempo que eu te quero, então relaxa, Maria, pois eu sei que você quer isso tanto quanto eu...

Cansada da batalha desigual, a doméstica considera suas chances de fuga e toma uma resolução surpreendente até mesmo para si própria:

— Tudo bem, garotão, vamos fazer como deseja. Vocês venceram, podem romper o hímen da empregada.

Alguns dias depois, Osvaldinho ainda se gabava para os amigos por ter desvirginado a bela empregada, que se entregara a ele de livre e espontânea vontade. Enciumado, Jorge brigara feio com o filho e cortara sua generosa mesada. Por sua vez, dona Laura brigou também com o marido, argumentando que se o pai sentira tanta raiva do filho, seria porque ele mesmo é quem gostaria de ter tirado a virgindade “daquela doméstica oferecida”.

Quanto à Maria, ela perdeu realmente o emprego, entretanto, sua pior perda fora efetivamente no campo das relações interpessoais. Traída pela patroa que se fizera passar por grande amiga e confidente e desrespeitada e humilhada pelos homens pervertidos daquela casa, a moça jurou para si mesma que nunca mais confiaria em patrões novamente.