Ausencia
Acordei. Ou melhor, fui acordado. Nao. Nao foi uma pessoa que me acordou. Foi meu despertador. Eu nao tenho ninguem. Alias, tenho. Meu despertador.
Tomei banho, escovei os dentes, me vesti, tomei cafe, arrumei minhas coisas. Sai. Andei pelo mesmo caminho de sempre, peguei o mesmo metro de sempre e fui para o mesmo lugar de sempre. E pasmem! Vi as mesmas pessoas de sempre tambem.
Isso aconteceu por 5 dias. Quando o sabado chegou, eu fiz outras coisas que nao tinha feito nos outros 5 dias. Eu li. Eu vi televisao. Eu fui ao cinema. Cabe dizer aqui: fui sozinho. Ate que foi divertido! E ai chegou o domingo. E eu li. Eu vi televisao. Eu fui ao cinema. Outra vez: sozinho.
Sabe, acho que minha vida tem apenas 2 dias. Um dia valendo pelos 5 primeiros. E outro dia valendo pelo sabado e pelo domingo. Nao. Nao ria e nem tenha pena de mim. Posso estar sozinho ao ir ao cinema. Mas nao estou sozinho quando digo que minha vida e sinonimo de rotina. Aposto que, junto comigo, existem mais de um milhao de pessoas. Viva! Tenho companhia!
Sou feliz. Juro que sou. O que sinto e que falta em mim alguma coisa. Eu quero encontrar alguma outra coisa. Nao sei bem o que e. E sabem, eu achei que sabia. Mas realmente nao sei. E... e a velha e conhecida insatisfacao humana. E eu sou humano. Bem melhor se nao fosse. Mas sou. E como a todos os humanos: falta-me algo.
Termino aqui este conto. E desta forma: incompleto. Digo ate que esse conto e meu espelho. Eu – a palavra; ausente de sentimentos – os acentos.