Vão-se os aneis, ficam-se os dedos...
'Era uma vez....'
Esse era o inicio de sua redacao na prova.
'Era uma vez...'
Como isso soava infantil agora.
Tambem,depois de ouvir essa frase até hoje,
que se lembrasse, passaram-se uns dez anos.
Hoje Ana Maria conta com dezessete e,
na escola, em plena prova e diante dessa frase pronta,
sentia-se meio perdida.
De vez em quando se permitia mudar o quadro e ver-se mae.
Sob nenhum aspecto a coisa lhe parecia interessante.
Mesmo o casamento surgia como um pálido sonho!!!!
Enfiou na cabeca que iria ate o fim do curso de matematica e
se formaria professora.
Primária a principio.
Depois, com o titulo de Mestra, lecionaria apenas pra adultos.
Sempre pensava no acontecido quando o tempo estava assim:
sol brilhando, ceu sem nuvens com uma aragenzinha fresca.
Como hoje.
Ela tinha acordado tarde naquele dia de forma que,
por volta do meio e nao mexeu na comida que mae deixara
na geladeira antes de sair pro trabalho.
Como fazia todos os dias.
Mas arrumou a casa, fez as tarefas da escola e agora,
achando a teve chata, decidiu sair pra comprar um sanduiche.
Ana morava so com sua mae numa casa simples, mas descente,
num dos bairros da periferia da grande cidade.
No caminho, foi interceptada por dois homens e, levada pra um
terreno baldio e estuprada sob ameaça de uma arma.
Ela nao gritou.
Temeu que a situacao poderia se agravar.
Aqueles sujeitos, que ela conhecia de fama,
sempre sabiam como piorar as coisas...
Apavorada e chorando baixinho, ela volta pra casa, entra no banheiro
e fica debaixo d'água durante muito tempo.
Lava-se seu sexo por vezes seguidas, apesar da dor lancinante.
Queria que fosse ralo abaixo todas as cenas daqueles
homens e sua fome de sexo!
Teve engulhos mas nao havia o quê vomitar...
Depois de longos minutos, a agua morna acalmou Ana.
Entao ela decidiu que iria pra cama e so falaria com a mae no dia
seguinte.
Teresa só chega em casa depois das onze,
cansada e, mesmo com todo o carinho que tinha pela filha....
"Nao, nao... Hoje nao!"- decidiu
Adormeceu um sono irriquieto e ouviu o barulho da chave na porta.
Assustada sentou-se na cama de um so pulo!
Quando percebeu sua mae, teve o desejo quase incontrolavel
correr pra ela, aninhar-se em seu colo generoso...
Mas nao, ela havia decido que hoje nao.
Quando o dia amanheceu, ela estava acordada,
quieta sob o lencol, enroscada em si mesma.
Buscava as forças exauridas pelas lagrimas.
Esperou que sua mae levantasse da mesa do cafe foi ate ela.
Quando Teresa colocou os olhos sobre a filha,
soube que havia algo errado.
Ela pediu que a mae se sentasse de novo e
contou todo o acontecido na tarde anterior.
Foram à delegacia.
Dalí, as duas seguiram pro hospital.
Na emergência, recebeu cuidados ginecológicos inadequados
para uma situação de violência sexual (ducha vaginal).
Dois meses depois elas descobrem a gravidez e
recorrem ao serviço que lhes atendeu na ocasião do estupro.
Ninguém sabia o quê fazer.
A mãe, segura de seus direitos procurou as autoridades.
Ela bradava, com o dedo em riste:
" - Alguém precisa fazer alguma coisa...
Essa menina não pode continuar grávida! Ela não procurou isso!"
Ana Maria, cabisbaixa, apenas chorava.
Três meses depois, Ana telefona pro hospital,
e pede pra falar com a Dra.Roseane:
"- Alô!...
"- Oi doutora, aqui é Ana Maria, a menina do estupro.
Liguei para dizer que estou bem. Arranjei um emprego e voltei a
estudar".