A Mulher de Virtudes
Era nos seus rostos que lia Tudo. Era nas suas respostas que achava as soluções. As pessoas vinham apavoradas, ansiosas e sempre frágeis. Entravam, sentavam-se e desatavam em pranto ou, receosas das suas conclusões, remetiam-se a um silêncio pesado. A Bruxa escutava-as, acendia velas vermelhas ou negras, deitava as cartas, sacudia no avental escuro as conchas e, aos punhados, jogava-as no tampo da mesa. As pausas serviam para reflexão e as leis do acaso ajudavam a compor conselhos elásticos, simpatias estranhas, chás para tomar ou esfregar no corpo e ervas para queimar nos cantos do quarto… Aos difíceis de perceber mostrava também a bola de cristal e ganhava mais tempo para a observação meticulosa, para fazer as associações que lhe davam credibilidade e fama. Era, como podem adivinhar, uma bruxa eclética. Fui, por insistência tua, acompanhar-te. Defumado e benzido também eu me dediquei a ver, com os olhos do espírito, a figura austera que tínhamos na frente. Meia dúzia de palavras, três perguntas cruciais e a tua reação às sugestões que te fez indicavam-lhe as conclusões. Precisavas de calma, de paciência e de tolerância. Precisavas de escolher alguém de confiança para te ajudar a sistematizar os problemas e, na área do amor, recomendava sinceridade. Que mantivesses o homem que tinhas porque, como esse, não arranjarias outro. “Ele pode não ser perfeito mas, minha senhora, quem mo dera ter a meu lado”, rematou, olhando-me com segura intenção. A sua vida está enredada nas pequenas questões. Levante-se cedo e trabalhe muito. Você vai vencer. Pagamos. Saímos. Eu voltei a ser uma certeza no brilho dos teus olhos.