Entre amor e brigas.
Estou casado há 5 anos e, até então, nunca briguei com a minha esposa. Antigamente, uma cara feia ou um nariz torto não durava mais do que 10 minutos. Resolvíamos nossas diferenças na conversa, no diálogo, na santa paz.
Conheci a minha esposa, a Ana, na faculdade. Naquela época, quando eu ainda tinha cabelos, a minha tática para conquistá-la foi a seguinte: fingi ser o aluno mais inteligente da sala. Ana percebeu isso e passou então a não entender quase nada das matérias. O plano foi perfeito: Ana me procurava para tirar dúvidas no intervalo. E eu a procurava para saber se ela estava entendendo tudo.
E foi assim, entre muitos estudos e dezenas de trabalhos em dupla que nos apaixonamos, trocamos alianças e estamos juntos até hoje. Nem tão juntos, infelizmente.
Ultimamente, está difícil a convivência com a minha esposa. Pode ser problema hormonal (sempre ele), estresse ou desgaste natural do casamento, não sei. Pode ser um monte de coisa, mas por que vocês mulheres não falam para nós homens? Seria muito mais fácil, não é?
Estamos em uma fase em que tudo o que eu digo a irrita. E o que eu acabo escutando me tira do sério. Procuro me aproximar perguntando o que ela tem: dá briga. Fico quieto: dá briga. Falo pouco: dá briga. Deixo Ana no canto dela: pois é, dá briga. Fala sério.
Sou apaixonado por essa mulher e não posso permitir que esse amor acabe assim, do nada. Se bem que nessa última noite, não sei não. A briga foi daquelas de acordar a vizinhança do quarteirão. E, mais uma vez, sem motivos.
- Tudo bem, meu amor?
- ...
- Por que você está tão quietinha?
- Estou bem, já disse.
- Não, você não me disse nada!
- Vai começar, Arnaldo?
- Pfff....
Até aí, normal. Mas a briga começou mesmo quando fiz um elogio. Sim, amigo, nem elogiar mais eu posso.
- Você está linda, sabia?
- ....
- É verdade, tá diferente, mais cheinha...
- Como é que é, Arnaldo?!?
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