TERRA ENCANTADA

Visão privilegiada de uma terra encantada. Braços estendidos em cruz, o Cristo Jesus, envolve toda cidade com as bênçãos da Sua luz. De leste a oeste... De norte a sul, e com muita sorte eu pego carona num vento forte do sul.

E inicio meu voo. Em sentido contrário pela Avenida Brasil, solitário. Do quilômetro 58,5 eu vou descendo, saindo de Santa Cruz escrevendo, sobre a paisagem desta cidade. Rio de Janeiro, cidade cantada em verso e prosa, que é minha, é tua, é nossa terra... Capital amada. De montanhosas paisagens, verdejantes e rochosas, que ladeiam sua principal avenida movimentada. Os maciços do Mendanha à esquerda, e o da Pedra Branca à direita, reúnem um verde esperança, que todo desmatamento se desfaz e não se ajeita.

Chego com Paciência, ao Campo Grande, onde outrora grande campo de laranjal existia, e que agora se via pelas suas ruas e vias prédios plantados que crescem, dia após dia...

Pego uma estrada que me leva ao Rio da Prata, do Campo Grande. Vou subindo o maciço mais alto e elegante. Lá do seu cume, vejo longe o horizonte. Dos seus mais de um quilômetro de altitude estonteante, percorro a baixada de Jacarepaguá distante às areias quentes da Barra que esbarram nas praias de ondas espumantes.

Ah! Essas praias deslumbrantes, da Restinga da Marambaia à Barra de Guaratiba ondulante, em sorriso que vem e vai e a felicidade que se renderá aos encantos de Grumari até a Ilha de Paquetá.

Do alto da montanha os abutres do novo mundo, voam os urubus, e com eles pego carona numa aérea corrente. Sobrevoo o bairro de Bangu, da extinta fábrica de tecidos, que cedeu lugar a um Shopping Center. Herança dos ingleses, com seus tijolinhos vermelhos, que construíram os juntinhos casebres, ergueram a igreja de Santa Cecília, onde nas missas os fiéis oram todos de joelhos.

Volto à Avenida Brasil. Prossigo pelos seus bairros lindeiros, vendo um povo alegre e brejeiro, mas que abrigam também, a pobreza na falta de dinheiro e a droga do mal sorrateiro.

Com sucesso chego a Bonsucesso, e mais adiante em Manguinhos. Vejo comunidades em risco, cercando um campus de intelectos, com seu pavilhão mourisco, que desvendam científicos mistérios e outros aspectos do Brasil. E abrem as portas aos países vizinhos. É a FIOCRUZ da ciência, lá depositamos a esperança, com toda reverência em matéria de doença, que nos livre de todo o mal sem tardança.

Seguindo pela avenida de mãos congestionadas, passamos do seu quilômetro zero, chegamos a Presidente Vargas. Renteando a Prefeitura vemos prédios vitrificados, refletindo a paisagem dura de concretos e financeiros mercados.

Paro no marco zero da Cidade Maravilhosa. Nas ruas estreitas do centro que contam a sua história. Das antigas igrejas à moderna Catedral, dos Arcos da Lapa à Central, pela Avenida Rio Branco chegamos ao Theatro Municipal. Dos eventos musicais aos doces teatrais momentos, todos sob os olhares siderais, em aplausos de sentimentos, nos dias e noites de céus em eternas luzes celestiais.

Visito o bairro elevado de Santa Teresa, que bacana! Depois desço. Oh, Glória! Sigo pelo Aterro do Flamengo, não me esqueço das Laranjeiras, depois vou a Botafogo, até chegar à praia de Copacabana. Do seu calçadão, nas suas ondas pego carona até o morro Cara de Cão... Da Urca, subo no Pão de Açúcar e de lá admiro a paisagem. Daquela doce imagem dou um salto ao vazio espaço, em uma nuvem pego carona com enlace, e vejo o Cristo face a face. Segurando-me em sua mão faço a minha reflexão.

Sou carioca da gema e da clara... Da clara luz que ilumina a nossa baía... Do Rio de Janeiro que declara até dezembro a citadina alegria. Terra da folia no mês de fevereiro, na simpatia de um povo hospitaleiro e prazenteiro, que guarda no futebol a sua arte popular. Criando-se uma ilusão da qual, muitos abusam, mas que serve de escusa nas bebericadas conversas de bar.

Na memória, um desfile de lembranças. Das mulatas e das madames em seus gingados exuberantes, mas, também, das “donas” dos morros que cuidam de todas as crianças.

Contrastes da terra abençoada por Deus, da garota de Ipanema de Vinícius e Tom. Das poesias de Drummond que aqui escreveu e de tantos outros a quem demos adeus. Mas, com louvor, do pobre trabalhador que de sol a sol padeceu.

Ah! Rio de Janeiro que pela baía abraça o Atlântico, que traz do seu ar e seus mares... Turistas do mundo... Igualmente um dia abraçará cada carioca romântico, que devolverá em poesias seu amor mais profundo.

Da mão do Redentor contemplo os antigos relevos desta cidade. Que desenham a história de tempos remotos e de minha felicidade. São inesquecíveis momentos, ao encanto do Rio de Janeiro que é nosso. E de cima do Cristo no crepúsculo, à luz vespertina no horizonte, sobre a cidade eu solto um riso a todos os seus vivos, mas, velo e choro por todos os seus mortos...