Entre irmão.

 

 

Eduardo sentou-se ao lado de Marta e perguntou.

-Como foi? - disse colocando a carteira sobre a mesa de centro, a esposa do irmão tinha lagrimas nos olhos, seu semblante era de desespero.

-Perdeu o emprego e pulou, não aguentou a humilhação – disse Marta – todo mundo vai achar que é um gesto covarde, ele não aguentou a calunia. - ela baixou a cabeça e completou -  o que não faz com uma família algumas palavras perversas?A calunia talvez seja a mais poderosa das armas e a mais usadas pelos covardes.

Eduardo sabia do caráter do irmão, sabia também o quanto era fraco para enfrentar a brutalidade da vida.

Baseava a sua vida em  moral, ética coisas antigas que Eduardo não entendia para que tanto caráter em um mundo safado e desonesto, vinte anos dedicados a uma mesma firma, fez tudo certo, um funcionário padrão, Wagner resolvia todos os problemas da fabrica, porém nos últimos tempos estava estressado, nervoso, sobrecarregado, um dos funcionários novos era um primo do dono, não fazia nada direito, Wagner teve um conflito com ele e foi demitido. Com vinte anos de trabalho e cinquenta de idade, engenheiro civil, estava na rua, desempregado, oito mil reais de salario, filhos em universidade particulares, alto padrão de vida, tudo acabou em um piscar de olhos.

Wagner o homem que acreditava em certo e errado,ficou desesperado e acabou com a própria vida - covarde, pensou Eduardo.

Eduardo cumpriu dez anos de pena em uma penitenciária, onde lutou pela vida com tudo que tinha, sabia muito bem que o mundo não era dividido em certo e errado, a divisão real era fraco e forte, rico e pobre.

-Ele veio até aqui na nossa casa... - disse Marta com a voz incerta, tremula que nunca foi dela, pois antes tinha a voz firme e rouca.

-Ele quem, o cara o tal do Rodolfo? Que ele fez? Acusou Wagner de roubo?

-É, sei lá? Desvio de verba, você sabe que o seu Aníbal confiava no Wagner - ela olhou para cima, para o teto, como se tivesse algum Deus lá.

-Falou alguma coisa? - perguntou Eduardo.

-Ele falou sim, disse que ia acabar com a vida do Wagner, não acharam nada que manchasse a honra de Wagner, mas ele citou você, disse que o irmão era criminoso - ela enxugou as lagrimas, porém Eduardo não se abalou -  ai tudo foi parar nos jornais, Wagner ficou muito envergonhado e sentido com seu Aníbal,o dono, ele implorou Eduardo, mesmo assim demitiram ele. 

-O pai está muito abalado – disse Eduardo – Wagner sempre foi o direitinho da família e eu o errado, os direitos sempre morrem primeiro, não é?– passou a mão no cabelo – e as meninas?

-Dormindo, que elas podem fazer? Vão viver a infância sem o pai que adoravam, não tem nada que eu possa fazer, não há remédio para a morte – disse e pegou um pouco de água, bebeu, Eduardo olhou para a bela esposa do irmão, foi sempre uma grande companheira, agora tinha a missão de levar a frente a vida da família.

-A casa? - Eduardo perguntou.

-Tenho que vender, vamos para um apartamento menor, preciso recomeçar, tirar forças não sei de onde – disse Marta.

-Você tem família, eu estou aqui, o pai, ninguém vai deixar você sozinha – disse abraçando a cunhada.

Eduardo deixou a cunhada e foi até o bar da esquina, precisava refletir, sua vida estava organizada, nunca foi igual a Wagner, não tinha mulher nem filhos, nunca foi honesto, foi preso a primeira vez com dezoito anos, não acreditava em governos ou regras, dentro dele havia apenas um sentido: sobrevivência, tratava injustiça, com justiça bruta, pediu uma cerveja e tentou esfriar os ânimos com um gole, olhou no celular o telefone do pai, deixou aquela ligação para depois.

O homem dono do bar era um conhecido e veio dar os pêsames.

-Coisa complicada em  Eduardo, seu Wagner, trabalhava dia e noite naquela fabrica, hoje não se pensa em ninguém, patrão não quer saber de empregado bom, ou ruim, ele quer saber do empregado que não dá chateação, no vale do silício nos EUA (local onde mais se produz computadores) existe um coeficiente de chateação para cada empregado, pense bem, você é contratado pelo nível de chateação que provoca ao seu patrão, por isso prefiro o meu negocio próprio– disse colocando mais uma cerveja.

-Olho por olho, temos uma coisa de família, quem procura encrenca com um procura com todos, as vezes a chateação vem de onde nem imaginamos – disse Eduardo, pagou a conta e saiu, nem escutou a resposta do dono do bar.

-Verdade – disse o senhor gordo dono do bar que Eduardo nunca lembrava o nome – ás vezes podemos até cometer uma besteira.

Desceu a rua, não tinha para onde ir, não morava na cidade e não queria voltar para a casa do irmão com toda aquela tristeza por lá, lembrou da arma carregada no porta luvas do Corola, seis tiros, cada um para o cretino da fábrica, virou a direita e entrou em um prostíbulo, saiu com duas prostitutas, meia noite voltou para o carro.

Eduardo roubou uma vez um dinheiro da carteira do pai, o irmão recolocou o dinheiro antes do pai descobrir, Wagner, retirou das suas economias, fez de tudo para o irmão não receber o castigo, na adolescência, nas inúmeras vezes que Eduardo foi pego com droga o irmão estava lá para ajudar, esse amor é meio estranho, amor de irmão, amor para sempre.

O casamento de Wagner, coisa mais bonita que já viu, disse antes de entrar na igreja.

-Como você consegue, feio desse jeito casar com uma mulher tão linda e exuberante como Marta? - dizia e se abraçavam, dois irmão, sempre brincavam juntos, brigavam, dividiam tudo e agora Eduardo estava sozinho, antes nem imaginava que tudo acabaria assim, se conhecêssemos o nosso futuro, será que agiríamos diferentes?

O sonho do irmão foi uma vida honesta, felicidade, o dele nunca existiu, sonhar nunca foi para Eduardo, vivia o momento, teve em seu caminho consequencias duras, isolado do pai, a morte da mãe e agora do irmão, tudo na sua conta de ovelha negra, o menino errado, no entanto nunca desisitiu da vida.

Ficou na frente da casa do homem que causou a morte do irmão, o primo maldito do dono da fabrica.

O homem veio andando, cambaleante, quem sabe bebado, terno novo, cabelo com brilhantina, andava com uma mulher loura, talvez a namorada, ou alguma vadia, Eduardo olhou a arma destravou, dois anos de treino era um atirador magnifico.

Parou em frente ao homem.

-Quem é você? - disse desconfiado ao ver a fisionomia dura de Eduardo.

-Um acerto de contas – disse atirando uma vez na face, depois outra na região temporal fazendo um buraco na cabeça, a mulher tentou correr, mas Eduardo acertou primeiro nas costas, depois na cabeça, região occipital de trás para frente, era madrugada, a angustia não tinha ido embora.

Era o que podia fazer pelo irmão e fez, assim que Eduardo resolvia a sua vida.

Ligou para o pai.

-Está feito - desligou sem esperar a resposta do pai e jogou o celular no lixo, depois desapareceu em seu mundo livre

fim
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JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 02/07/2013
Reeditado em 02/07/2013
Código do texto: T4368853
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