BRAÇO FIXO
(Continuação de SALIM ABOU ADIB EL RAFIR, de Alberto Vasconcelos)
Passando suas férias em Murucututu Açu, na casa dos avós materno, as irmãs Dirce e Dulce foram daquelas moças que estiveram visitando a “lojinia” do Salim Abou Adib El Rafir, na Praça Cel. Vergueiro.
- Non vai comprarr nada di Salim, meninas?
Aí lembraram de que, na cidade delas havia um cidadão de origem árabe, que vendia certos produtos, não lembrando o quê, parado ao lado de sua mala colocada no chão.
Era o Mohammed Faruk...
...Na estação de trem de Santo André, os trilhos da via férrea eram isolados através de porteiras, de ambos os lados.
De um lado, ficava o bairro por onde passava o rio Tamanduateí, e do outro, o centro da cidade.
O prédio era daqueles típicos, tijolo à vista, portas em arco pintadas de marrom, dando o aspecto de construção antiga. E que, realmente, era.
Bem em frente à bilheteria, o bebedouro redondo, de ferro fundido, onde os cavalos, sedentos, matavam quem queria lhes matar, após uma viagem de entrega de mercadoria descarregada no último trem.
O povo, maledicente, dizia que, na inauguração dele, o prefeito foi o primeiro a beber a água.
Santo André, naquela época, nos anos cinquenta do século passado, já possuía um movimentado comércio ao redor da estação, na parte central, com incessante vaivém de pessoas.
Ao lado da porta de entrada e saída da estação, Mohammed fazia ponto.
Logo pela manhã, no primeiro trem vindo da capital, chegava ele com sua mala bem grande, trazendo a mercadoria tradicional: gravatas.
Alto, magro, chapéu preto, pele escura, rosto cavado, onde as maçãs se sobressaiam, olhos negros, nariz afilado, grande, próprio da raça, em forma de bico de papagaio.
- Ei batronzinio, olha os crovatas! Breço fixo! Bura seda italiana, uma bor deis, duas bor quinze cruzeras!
Assim ele passava as manhãs, posição ereta, como uma estátua, sempre com o braço esquerdo dobrado, palma da mão na altura do umbigo, colocando no antebraço meia dúzia de gravatas.
Diante dessa figura, quase imutável, o povo colocou-lhe o apelido de “braço fixo”.
Após o almoço, no Bar Faísca, do Carlito Lunardi, fechava a mala, e com ela na mão direita, subia a rua Bernardino de Campos, dobrava na General Glicério, à esquerda, chegando na Oliveira Lima, a principal da cidade.
O braço esquerdo sempre com as gravatas na posição já descrita.
Então percorria essa última até o fim, para depois, um dia ir pela Senador Flaquer, a via dos bancos e do Museu Octaviano A. Gaiarsa, em direção, ou à Vila Pires e redondezas, ou às Vila Alzira, Vila Helena e outras.
Noutro dia, seguia pela Fernando Prestes, indo para os lados da Vila Assunção, Bairro Paraíso e adjacências.
Assim, cada dia num lugar, cobria a cidade inteira vendendo suas gravatas.
Acabou conhecendo toda Santo André, e por toda ela sendo conhecido.
- Lá vai o Braço Fixo, diziam!
Essa interação foi enviada pelo confrade Aristeu Fatal - Santo André/SP - que aceitou entrar na brincadeira e pelo que eu agradeço imensamente.
(continua em NA FEIRA DO VER-O-PESO. - colaboração da consóror Conceição Gomes - Curitiba)
(continua em FÉRIAS DE SALIM. - colaboração do confrade Paulo Moreno - Londrina/PR)
(continua em CARRO DE BOMBEIRO)
(continua em DE BARQUINHO... - colaboração do confrade Aristeu Fatal - Stº André/SP)