O Caminho
Um passo depois do outro. A escuridão ao redor. O frio penetra como se fossem facas, E lá está ele pelo caminho. A jornada é dura, mas já dizia Nietizche, “Aquele que combate monstros por muito tempo, acaba por tornar-se um”. E de tanto se ver de frente a situações árduas, ele se tornou a pedra pra suportá-las. Não que isso seja bom, afinal, torna-se alguém extremamente duro.
A frieza de suas ações e palavras, acaba tornando-o alguém um tanto “assustador” de acordo com as pessoas ao seu redor. Mas agora, esse é seu mecanismo de auto-defesa. Não mostrar sentimentos, ajuda que as pessoas não esperem isso dele. E quantas vezes ele já perdeu pessoas por mostrar sentimentos. Melhor deixar que saibam apenas que elas podem contar com ele. Que ele se importa, do jeito dele, mas se importa. Mostrar o que sente, o torna fraco. E esse mundo não oferece chances para o fraco. Ele aprendeu a muito tempo que pode-se mudar e adaptar as situações. Sofrer é uma escolha que ele não se permite ter. Uma tragada no cigarro, uma baforada pro alto e o raio que clareia tudo ao redor, mostra o nada do caminho obscuro.
Seus pensamentos estão perdidos, vagueando pela sua curta vida. As visões se ele poderia ter sido um marido melhor, um pai melhor, um amigo melhor, um filho melhor, simplesmente melhor com as pessoas. Isso porque elas se vão, as pessoas assim como poeira na estrada, um dia são carregadas pelo vento. O vento que o joga de encontro a novas poeiras e longe de algumas antigas. Pessoas se vão. É difícil aceitar essa lei da existência, porém é o que acontece. E as lembranças ficam. Mas no seu caso, que lembranças? Ele não se permite envolver. E sem envolvimento, não existem relações de qualquer nível. Outra tragada.
Um passo após o outro e ele vai seguindo a estrada de sua escolha. Um passo após o outro e ele vai se virando com o que pode. Um passo após o outro e ele vai sobrevivendo. Um passo a mais que o deixa cada vez chegando perto do amanhecer, onde clareará a escuridão. Mas assim, como quando se faz um trabalho que não lhe exige atenção e é demasiado moroso, o tempo parece não passar. E esse mesmo tempo que não passa, o faz refletir mais, e quando ele olha pra tudo. “Nossa, o tempo voou e eu nem vi”. Contraditório? Sim. Porém, quando vive-se demais em seu próprio mundo, o seu tempo corre diferente dos demais.
Agora seu cigarro vai chegando ao fim. Seu momento de reflexão vai terminando. E ao jogar a bituca pra fora é lançado novamente de encontro a realidade. Onde todos estão por perto e sua amiga o chama.
- Hei, “surdão”. Estou chamando a um tempo já. Você ta bem? Está com uma cara estranha.
-Sim. Estou. Apenas estava pensando em algumas coisas aí sem importância. – Responde ele que mais uma vez prefere não abrir seus sentimentos e guardar o ponto de seu caminho escuro pra poder retomar a estrada.