O homem e a Árvore.
Sem forças para andar mais, encostei-me no tronco de uma árvore. Por falta de abraço humano, abracei o tronco frio, de onde se erguiam galhos sem folhas. Chorei. Senti uma pequena vibração e, imediatamente, me afastei perplexo. Toquei-o novamente, desta vez só com uma mão. Esperava, ou não esperava, não sei bem, que se repetisse o vibrar. Não se repetiu. Que bom, pensei! Não estou louco, ainda!
O que me fez permanecer naquele lugar no primeiro minuto seguinte, foi a surpresa diante do sobrenatural. O que não é possível, possível se tornou. A árvore falou comigo. Sem rodeios. Direta.
_ Por que choras tanto?
_ Porque perdi o emprego – respondi num sobressalto.
_ Desculpe-me, humano, mas sua vida dependia desse emprego? É o que pensas?
_ Sim – meio que falei, meio que solucei.
_ Diante de sua resposta, vou calar-me. Não posso ajudá-lo diante de tal imperatividade de uma atividade em sua vida.
_ Escute aqui, espécie da natureza: Como ousas? Você tem tudo de graça, vive de acordo com o que alguns filósofos chamaram de Devir, movimento natural da vida. Quem, ou melhor dizendo, o que pensas que és para minimizar o trabalho de um homem? Graças a ele eu tenho muitas coisas e, agora, na desgraça em que caí, tudo irá se perder.
_ Se olhar para cima, espécie dita superior, verás que perdi minhas folhas nesse inverno, como em todos os outros.
_ E o que tem isso? Você as recuperará na primavera, todos sabem disso, inclusive você.
_ Então, ó desempregado, achas que é sem nenhum esforço? É o que supõe tua vã filosofia? Não estudaste? No entanto, não o culpo, porque os livros têm o dom de tornar simplista tamanho esforço de minha parte.
_ Esforço, ó feiosa? Tens a arrogância de chamar de esforço o que te é dado com gratuidade? A terra continua te dando alimento e, repito, você estará mais bela que nunca na próxima primavera.
_ Vou relevar o “feiosa”, porque só veem graça nas minhas folhas, mesmo. Isso seria motivo para me derramar em lágrimas também, mas tenho outras atribuições e não perco meu tempo me lamuriando. Antes que perguntes, respondo que no inverno, toda a minha concentração vai para minha raiz. Ela tem que permanecer forte. Para tanto, não desperdiço energia com o que no momento pode enfear-me diante dos exigentes olhos humanos. Ou seja, para dar-lhes a beleza que querem e para cumprir minha missão nesse mundo, concentro-me no que é vital para minha sobrevivência.
_ Pareceu-me que desaprova minhas lágrimas, ó desfavorecida do dom de chorar. É atributo humano e dele usufruo, mas você não sabe o que é desespero, lágrimas, família, nada!
_ Desconhecendo-os, me considero afortunada, ó Imagem e Semelhança do Criador. Chamo-lhe à razão. Razão é atributo de sua espécie, unicamente, então por que não a usa nesse momento?
_ Confesso, ó bela criação, que a insegurança e o medo, que são emoções, estão impedindo minha racionalidade.
_ Talvez entenda, então, porque essa conversa nos foi oportunizada. Se estivesse raciocinando, não haveria a mínima chance desse diálogo, entre tão altiva criatura e tão refém de suas vontades, que sou eu, essa simples árvore que vos fala.
_ Não entendo a razão... Ajude-me.
_ Eu estou passando pelo inverno, literalmente, de minha existência e tenho que sobreviver. Você, está num momento de “inverno” na sua alma e também tem que sobreviver. O seu sol – o dinheiro – foi embora, mas você tem muitos outros recursos dentro de seu misterioso humanismo para utilizar-se.
_ Quais? Não os vejo. Só vejo perdas e mais perdas; de bens, de posição social e, até mesmo de esposa, talvez. Quem quer ficar com um fracassado?
_ Quem te amar de verdade. Quem te abandonar não te ama! Amava antes, o que você podia dar. É um bom momento para constatar isso. Abandone, no entanto, a expressão “fracassado”. Troque-a por “oportunidade”.
_ Como?
_ Nem sempre se ganha na vida e o perder traz muitos ganhos, se souber como administrá-lo.
_ Dona árvore, não é preciso saber administrar o pouco. Vai-se perdendo-o e ponto final.
_ Meu Senhor... O pouco exige multiplicação. Porém, vou lhe ensinar algo que talvez o retire do cárcere de suas aflições.
_ Já sei, querida amiga. Devo concentrar minha energia no que me é essencial, como a Sra. faz. Não é isso?
_ Não, humano. Eu sou um tronco. Você é um homem. Não seja homem-tronco, não fique preso dentro de si como eu fico presa nesse lugar. Você é autor de sua vida. Já eu, de modo algum posso sair daqui e buscar por região mais quente. É o que quero lhe mostrar.
_ Como é que é?
_ Simples. Veja que já não está mais encostado em mim, já está em pé sozinho novamente. Eu sou limitada em meus recursos, mas o Sr. Não é, de forma alguma. É bem superior à minha espécie e possui recursos tantos... Sua energia deve fluir para todo o seu ser. Deixe-a sair de seu desespero e tomar conta de todo o seu corpo, chegando à mente e à sua alma. Acalme suas emoções para que isso aconteça. Não poderá ver nada enquanto não se acalmar.
_ E o que essa energia pode fazer por mim?
_ Pode fazê-lo ver oportunidades novas, potencialidades qu