MUITO OBRIGADO
Ao chegar à entrada do prédio de luxo na Zona Sul carioca, foi à portaria e anunciou:
- Boa noite. O Doutor Braz me aguarda.
O porteiro conferiu a fotografia do documento e interfonou:
- Alô, Doutor. Murilo Costa deseja subir. Ok?
Depois de alguns segundos, acenou “Sim” com a cabeça. Murilo seguiu para o elevador e acionou o andar.
Ao chegar, olhou com cuidado o corredor. Caminhou até uma das portas e acionou a campainha. Um senhor sorridente, olhos verdes, vasta cabeleira branca, óculos, em uma cadeira de rodas, atendeu.
- Que bom que veio. – Disse o homem.
Murilo entrou. Braz perguntou:
- Sobre o que vamos conversar?
- Fique a vontade doutor.
E assim foram três horas de conversa. Braz falou sobre tudo, desde a crise econômica na Europa, até a saudade da infância. Murilo ouviu tudo com atenção. Até que...
- Doutor, está tarde. Preciso ir.
- Que pena... – Disse Braz – Obrigado amigo. Obrigado mesmo!
- Por nada doutor – Respondeu, levantando-se.
- Até semana que vem.
Assim fazia toda a semana. Por três horas ouvia o solitário doutor Braz. Viúvo, sem filhos e vitima de um derrame. Cumpriu este “ritual” até a morte do advogado.
O motivo? Agradecimento, pelo fato de um dia ter sido amparado com um emprego de Office-boy na firma do homem depois de ter tentado assalta-lo e ter sido dominado por transeuntes.
Braz não só impediu que o linchassem como ofereceu duas opções além da policia: “Quer trabalhar e estudar?”.