O ROSTO NO ESPELHO
"Cadê você mulher?". Julieta sentiu o grito vindo da sala numa voz grave e familiar. Digo sentiu, porque machucava. Diminuía. Feria.
Ao erguer a cabeça encontrou no espelho um rosto marcado pelo tempo. "Tempo" pensou. Tempo que passou. Rápido.
Em lembranças reencontrou seu rosto de vinte anos, quando casou-se com o dono da voz. Sonhos. Projetos. Amor.
Porém, a escolha mostrou sua face logo na primeira noite, após a cerimônia de casamento. Doeu. Machucou.
Mas, com o tempo tudo mudaria.
Não mudou. Piorou.
Com o tempo o que veio foram os filhos. Um após o outro.
Enquanto o dono da voz, cada vez mais ausente e distante, continuava feliz com a "mulher de dentro de casa", sem direito a escolha, feita para servir o marido.
O primeiro tapa no rosto foi quando perguntou o motivo dele chegar constantemente tarde. Depois por qualquer motivo.
A cada "procura" um capitulo de repulsa.
E agora?
Quarenta anos depois, o que resta?
"Já vou" Respondeu.
Nota do autor: À todas, que entregaram suas vidas, receberam em troca a brutalidade e vivem o amor pelo costume, Um beijo!