Conversa Com o Tempo

_Bom dia!

(silêncio)

_Não vai me responder, tempo?

_É comigo mesmo que está falando? Você enlouqueceu? Ninguém fala comigo.

_VOCÊ está me enlouquecendo, então fale comigo, agora.

_Eu? Eu só faço passar… Você é quem tem dificuldade em me acompanhar.

_Só faz passar? Você faz tudo acontecer e ainda, passa muito apressado…

_Que culpa me cabe de você se distrair?

_Mas é você mesmo quem me distrai, dando espaço a tantos acontecimentos. Precisa ser tão permissivo? Ah, desculpe-me, não quero ofender.

_Tudo bem, todos me culpam por tudo mesmo…

_Você dá motivos, admita.

_Do que está falando? Eu sou desrespeitado, sou indesejado depois dos 20 anos, sou analisado e fixado em segundos, minutos, horas… Sou usado como desculpa: “não deu tempo”! Que é isso? Eu disponho de mim suficientemente.

_E rapidamente, eu diria, mas o que me diz de estar sempre novo? Agora, por exemplo, estou falando não mais com o tempo que cumprimentei. Já é outro que está aqui e já vai também…

_Sou o mesmo, apenas renovado. Aliás, ao contrário de você, não é?

_Não precisa ser deselegante usando um poder que só você tem: o de envelhecer as pessoas e coisas.

_É característica inerente ao que sou… Nada posso fazer. Vê se me entende. É para teu próprio bem.

_Isso é você quem diz. Não vejo bem algum nisso. Pelo contrário!

_Se vamos entrar nessa questão, te peço reflexão. O que é natural não se modifica; se tentar alguma coisa, certamente terá consequências, já adianto…

_Adiantado ou atrasado, você é implacável. Não poderíamos fazer acordo?

_Você faz acordo comigo o tempo todo, aprendeu e nem percebeu? Não me dá folga…

_Por falar em folga… Olha… Quem sabe você tira umas férias? Que me diz?

_Você só se move porque se movimenta em mim, se eu sair, estática ficará, quer assim? Já inspirei filmes que mostram isso. Anda alienada?

_Alienada, não. Esquecida. Ando me esquecendo de certas coisas frequentemente, tudo culpa sua.

_Não mesmo! Você está bem lúcida, nada tem a ver comigo e sim com teu estresse.

_Voltamos então à questão da culpa. O estresse vem de o teu passar, ou melhor, voar.

_Nem vem! Falta de equilíbrio não está em mim. Eu já te ensinei muita coisa, estou contigo desde o teu primeiro dia de vida. Se não aprendeu, sempre “é tempo”, estou aqui…

_Agora ficou engraçado?

_Eu ensino a graça, tenho direito, portanto.

_E ensina a superar tragédias, tristezas, sei disso. Entretanto, você e só você faz esquecer. Porque isso? Não quero esquecer nada.

_Em verdade, em verdade… Quer uma prova de que é para teu bem? Feche os olhos. Vou te dar uma lembrança que tirei de tua consciência…

_PÁRA! Pelo amor de Deus! Pra que me lembrar disso? És também maldoso?

_Se fazer enxergar a verdade é ser maldoso… Vai parar de me criticar agora?

_Vou. Depois dessa lembrança, creio que te entendi. Por favor, me faça esquecer novamente.

_Não vou dizer que sinto muito, porque nada sinto, mas para esquecer, terá que esperar pacientemente eu passar. Na marcação humana, eu diria que alguns anos. Mas como eu passo “voando…”.

_Como não percebi antes? Preciso de você.

_Posso passar em paz, então?

_Peço calma na tua pressa; tenho um pedido a fazer.

_Só atenderei se for para teu bem. Sou bom ouvinte, porém. Diga-me teu desejo.

_ Calma, deixe-me lembrar de que tanto queria.

_Vai demorar?

_É isso! Eu quero que você demore, tenho tanto a fazer…

_Faça-me demorar então.

_Eu? Não tenho poder sobre você, é o contrário, está de brincadeira, agora?

_Primeiro “agora” sou eu também e, segundo, você terá minha demora, verá e sentirá minha passagem bem lentamente, mas só por algum “tempo”.

_Perfeito! Quanto de você? Pode usar nossa demarcação sua, para me explicar.

_Uma semana.

_Mesmo?

_Sim. Cumpro minhas promessas.

_Bom, vejamos… Ei! Pode ser alternado esse período? Por exemplo: nos momentos em que eu estiver relaxando, você passa lentamente e quando eu estiver atarefada, deixe-me te esquecer para que consiga dar conta de tudo. Gosto quando isso acontece.

_Fazendo acordo novamente? Pense bem! Você acaba de responder tuas próprias perguntas sobre mim.

_Como assim?

_É você quem me controla e está no comando. Eu passo, não sei ficar, mas a maneira como me percebe depende somente de tua sabedoria. Saiba vir junto comigo; nada tens a temer se me entender. Sou perfeito, venha, confie em mim. Abra os olhos para a sabedoria de minha existência para servir, e não será mais minha escrava como pensa que é. Me aceite. Esse é o segredo.

Fiquei em silêncio, pensando. Olhei para o relógio e vinte minutos haviam passado. Maravilhei-me! Se nesse curto espaço de tempo eu entendi que o tempo cronológico, este do relógio, não é o causador de minhas angústias, mas sim eu mesma, então posso me organizar melhor. E, uma coisa que não deixarei mais de fazer, é reservar um tempinho todos os dias para a auto-reflexão. Vou conversar comigo mesma, com meus problemas e, desta forma, procurando sempre uma solução, viverei mais e melhor.

miriangarcia
Enviado por miriangarcia em 22/06/2013
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