O REENCONTRO
Aquele era um dia diferente. Um telefonema. Um pedido. Não podia dizer não. Foi. Chegou até o endereço informado. Seguiu as indicações das placas até o prédio pintado de branco. Na porta, um homem levantou-se de um banco de madeira e perguntou: - Veio reconhecer? – Rômulo respondeu um “sim” com aceno de cabeça, entregando uma papeleta com algumas anotações. O homem abriu a porta. Entraram. Um frio de ambiente tocou a pele. Logo depois uma outra porta e o frio mais intenso. O homem apontou para uma maca a direita. Aproximaram-se e o homem lentamente retirou o lençol.
- É este? – Perguntou o homem. Rômulo baixou a cabeça. Faltava coragem. Em silêncio procurou coragem e olhou. Encontrou um rosto familiar:
- Sim, é meu pai – Respondeu.
- Vou providenciar os papeis de liberação – Disse o homem se afastando.
Rômulo sentou-se ao lado do corpo do pai. Lembrou-se do telefonema daquela manhã e da voz fraca da sua mãe: “Seu pai, morreu”. A noticia teria que ser motivo de comemoração, já que há dois anos não via “O velho”. Não se gostavam, pensava. Discutiam com freqüência, pensava. Não podiam continuar juntos, continuava pensando. Mas, a verdade é que se sentia estranhamente triste.
Olhou mais uma vez para o rosto pálido, barbudo e sem vida. Procurou o herói da infância; O gigante que o carregava nos braços; o companheiro de brincadeiras... Agora só tinha um corpo magro, arrasado pela doença. “Pai” chamou num silêncio sem querer mais resistir ao que sentia diante da cena. “Não tenho tempo de pedir perdão”- Disse em lágrimas - “Não tenho mais tempo” Repetiu.
Pôs uma das mãos sobre o corpo e sentiu que os desentendimentos do passado não apagaram o amor que sentia, ainda que guardado no baú do orgulho. Em lágrimas falou: “Valeu velho. O senhor foi um grande pai. Sua bênção” pediu, beijando as mãos frias do genitor.