Escola de Pedinte

Saiad Silva atravessava situação desconfortável. Seus antepassados foram homens poderosos e bem sucedidos. Ele se encontrava no Brasil com o sangue já misturado e como tantos outros Silvas, desempregado.

Acordou naquela manhã de quinta-feira decidido a mudar a sua história. Não queria sobreviver, queria viver. Resolveu ir para o centro da cidade, de metrô. Um emprego, uma idéia...

- Sei lá!

Arrumaria algo que se revertesse em grana. Entrou no último vagão. Ficou em pé observando caras, corpos, gentes. Quando o trem parou na estação Bresser, embarcou uma mulher aparentando ter trinta anos e foi logo dizendo:

- Gente pelo amor de Deus, me ajude com alguma coisa, minha mãe esta doente; com câncer, tenho dois filhos pequenos, meu marido me abandonou... - fez pausa - vocês podem me dar um real, um passe, um tíquete... qualquer coisa gente!

Saiad Silva presta atenção na lamúria.

Quando o metrô parou na estação seguinte, ao abrir a porta, um homem com uma criança no colo embarca chacoalhando algumas moedas na mão direita, e nem desconfiando de que outro pedinte já arrecadava alguns niqueis no início do vagão, com a voz embargada de emoção:

- Senhores e senhoras estão vendo esta criança? É minha filha, estamos passando necessidades... Não terminou a ladainha, a pedinte partiu para cima dele e aos gritos desabafou:

- Este vagão é meu! você não enxerga! além de pobre é cego!

O homem colocou a criança no chão e deu um soco violento na cara da pedinte. Ela caiu e a turma do deixa-disso se encarregou de esfriar os nervos.

Saiad Silva, impassível, como morto. Apenas em seus olhos brilho sinistro acendeu. Nos cantos dos lábios um sorriso cafajeste se fez perceber. Pensou consigo mesmo:

- Burros, ignorantes! texto ruim. Falado sem emoção, sem um olhar que mexa com o coração das pessoas e ainda por cima, dois no mesmo vagão! se esmurrando! - sorriu por dentro - aí está o caminho para eu tirar a bunda da pracinha.

Arrepio percorreu o corpo; das pontas dos pés ao couro cabeludo - Formarei a primeira Escola de Pedinte do mundo, que começara atuando aqui no Brasil, pois, o que não falta é diferença social; posso ter na mesma esquina muitos pobres, muitos miseráveis e muitos com um dinheirinho para dar a quem pedir com emoção, com jeitinho - abriu em seu rosto sorriso mórbido.

O trem parou. Desceu na estação Pedro ll. Na mente sequência de números se formavam. No DNA, a poção vinda da Turquia se revelava, e a vontade, esta, de políticos brasileiros, -de se apoderar do dinheiro alheio- se implanta no cérebro. Retorna para casa. Lápis, papel, contas. Raciocinava: temos no Brasil 180 milhões de pessoas -mais ou menos-, deste total, 30 milhões -mais ou menos- estão em miséria absoluta. Se cada um pagar 1 real por aula, estarei com os pés em terra firme - sorriu. Se espreguiçou na cadeira, coçou entre os dedões do pé, depois enfiou o mesmo dedo no nariz e com a meleca retirada fez uma bolinha, jogou para o alto e gritou feliz:

- Bingooooooooooooo!!!!!!

Euforia e adrenalina circulam agora nas veias de Saiad Silva. Em meio a este entusiasmo exacerbado, calor estranho invadiu-lhe o peito, o ar escasso. Deu um passo em direção ao telefone... não alcançou. Cai duro. Enfarto do miocárdio. Fulminante!

Às vezes o olho fica tão grande, o famoso zoião, que engorda, e você sabe, gorduras se fixam nas paredes das veias obstruindo a passagem do sangue, aí, o enfarto ataca.

 

 

 

 

 

 

 

 

Davi Antunes
Enviado por Davi Antunes em 20/06/2013
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