Sem Céu... Sem Destino

Toda manhã ao acordar, sento-me na cadeira, encho minha xícara preta, dentro da qual derramo o líquido da mesma cor. O café tem sentido de manhãs. E de tardes. Sigo esse ritual há anos, mas estou com vontade de mudar de lugar; ir para a sala. O motivo é uma sensação de claustrofobia, que nada tem a ver com minha cozinha, e sim, com o céu. Tiraram-me o meu céu!

De minha mesa, olhava para a grande janela e enquanto o forte líquido me deixava mais desperta, eu olhava para cima e sonhava… Com mistérios de minha alma, com a resolução de problemas pertinentes à crueza da vida… Tudo parecia possível, pois olhar para o espaço gigantesco, fazia com que os medos se apequenassem.

Quando começaram a construção de um novo prédio ao lado, o que me incomodou a princípio, foi o barulho. Não tenho cortinas na cozinha, porque nunca quis perder o contato com o imaginário que a visão me proporcionava. Agora, depois de meses passados vendo um edifício ser edificado no meu pedaço de céu, vou colocá-las.

A tristeza é fruto dos azulejos frios, da solidão sentida com a xícara na mão. A porta, antes fechada, agora está aberta para que meus olhos adentrem o cômodo reservado às visitas. Também está vazio. Onde estão as crianças? No trabalho. A vida segue em frente e, prova disso, é que meu pedaço de céu precisou ser ocupado, para ocupar meus pensamentos com coisas reais.

Saio de casa. Dou os primeiros passos e olho para cima. O céu está lá! Não é particular. Pertence a todos. Eu faço parte do todo.

Apresso os passos, mas sem pressa de chegar… Porque ainda não sei onde ir.

miriangarcia
Enviado por miriangarcia em 20/06/2013
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