Dias claros
O sol saia lentamente de detrás das nuvens navegantes. Mas foi rápida a forma como tocou o rosto de Hugo, ainda sonolento. Mariana já estava de pé a tempos, preparando o café. Assim que terminou, foi ao quarto.
- Acorde, Hugo, meu amor. Veja como o dia está claro e belo. As rosas do vizinho ainda não despertaram, as violetas do jardim não amanheceram. Venha ver, querido, o céu perfeito e o vestígio de nossa lua-cheia.
Nada disse Hugo, apenas resmungava. E levantou-se, cansado, para mais um dia de luta, para ganhar o pão. Levantou-se, coitado, lavar o rosto e as mãos.
- Mulher! Onde estão minhas meias pretas?
- Na gaveta da direita, querido!
- Não! Lá só tem uma! Cadê a outra?
- Não sei amor! De que importa? Pegue outra.
- Mas eu quero a preta!
- Mas tu tem outras!
Não calçou meia nenhuma. Iria sem. Dia infeliz, dia infernal. Maldito dia. Maldição!
- Mariana! Cadê o jornal?!
- Não sei, meu bem! Deve ainda estar na caixa do correio!
- Tu não foi lá pegar?!
- Ainda não, querido! Leia no caminho, não estrague o café com notícias tristes.
"Não vou tomar café nojento nenhum" - Pensou. Pegou apressadamente a pasta, passou a mão pelos cabelos ainda molhados e saiu. Saiu correndo. Correndo de medo. Morrendo de raiva. Mal notou o caminhão desgovernado quando atravessou a rua.
Nem sequer sentiu seu peito ser esmagado pelas rodas pesadas. E, Mariana, que permaneceu na cozinha, lavando isso, arrumando aquilo, cantarolava uma música dos tempos de sua avó. Que Deus a proteja.