Uma grande partida de futebol
Supimpa F.C, o time do momento! Esta é a equipe na qual jogo que integra um campeonato de clubes amadores do nosso estado.
Jogo na posição de meia, armo as jogadas do time, todos me têm como referência principalmente por ser o capitão e artilheiro do campeonato!
Meu nome é José de Oliveira, mas todos me chamam de Oliveira.
Nossa campanha até o momento foi a seguinte: oito a zero em cima do Motosserra F.C, seis a um no Orquídea E.C, três a zero no Fogaréu, dois a zero em cima do Toca do Tigre, três a um no Folha Verde e quatro a zero no Linear F.C.
Chegamos à grande final com a melhor campanha do campeonato estadual de clubes amadores!
O adversário seria nada mais nada menos do que o Xeque Mate F.C, um time que tinha tido uma campanha modesta até chegar à final vencendo seus adversários: Olímpico, Ponto Neutro, Toca do Leão, Olho de Peixe, Vila Milionária e Gladiadores, todos pelo placar de um a zero.
Éramos considerados os favoritos para a grande final, porém na hora da partida não foi bem assim.
O Xeque Mate logo no primeiro ataque abriu o placar com o gol de meia bicicleta de Souza, o craque do time após um cruzamento feito por Miguel, o lateral esquerdo da equipe.
Pressionamos bastante, numa determinada ocasião eu lancei Eduardinho que não estava impedido, ele passou entre os zagueiros ficando cara a cara com o goleiro Mendonça, o jovem atacante tremeu diante daquela “muralha” e ao tentar tirar de Mendonça acertou a bola na trave esquerda e o goleiro rapidamente se recuperou segurando a bola com firmeza!
O ditado diz: quem não faz toma e foi realmente o que aconteceu...
Numa arrancada fenomenal, Pereirinha, o ágil atacante do Xeque Mate, escapou de todo mundo, driblou o goleiro e marcou mais um gol, um verdadeiro golaço!
Terminou o segundo tempo assim!
Fomos para o vestiário sem acreditar no que estava ocorrendo! Nosso time, Supimpa E.C, o melhor time do campeonato, perdendo para uma equipe que até então tinha uma campanha discreta!
Eles estavam dando o sangue, se superando diante de um adversário teoricamente mais forte do que eles! Futebol é realmente uma caixinha de surpresas!
Minha esposa Ana Paula e meu filho João Vitor estavam no corredor do vestiário. Ana Paula me chamou de canto e foi logo me dizendo:
- Meu amor, esta é a nossa primeira final de campeonato, vença por nós, dedique esta vitória ao nosso filhinho, eu te amo!
- Eu também te amo, meu amor! – e a beijei intensamente.
Beijei também meu filho na fronte e saí de lá com lágrimas nos olhos.
De volta ao vestiário eu e o treinador Betão demos um chacoalhão na equipe, dissemos que não poderíamos perder de jeito nenhum aquela partida, pois todo o nosso esforço teria sido em vão.
- Pensem na alegria que vocês darão às suas famílias! – eu disse.
Aquilo foi uma injeção de ânimo para todos, sem exceção! Voltamos dispostos a virar aquele placar desfavorável.
O estádio que tinha capacidade para dez mil pessoas estava lotado!
Voltamos para o segundo tempo e o treinador Betão resolveu chamar um jovem chamado Rosário, era uma jovem promessa do nosso clube que pretendia arrebentar com o jogo naquele momento, ele era marrento e gostava de falar o que pensava, foi aí que eu e todo o time começamos a nos entusiasmar mais.
Rosário logo me deu um passe de "Letra" e eu peguei de primeira, um golaço, diminuímos o placar para dois a um, quando a bola saía do campo eu sempre olhava minha esposa Ana Paula sempre linda e meu filhinho João Vitor que sofre de síndrome de Down e queria mostrar para ele o quanto o pai o ama e como sou feliz em tê-lo comigo!
Para mim aquela vitória do "SUPIMPA" era mais do que uma vitória, mas ainda precisávamos ralar muito, Rosário continuava comandando nosso time!
Eu cruzei uma bola meio rasteira o zagueiro desviou contra e a bola bateu na trave, na volta Rosário pulou igual a um peixe e fez o chamado gol de "PEIXINHO", foi demais, empatamos o jogo já a 15 minutos do fim, restava o gol da vitória, comemoramos muito e solltei beijos do gramado para minha esposa e meu filho, cheguei até a perguntar ao Rosário como ele tinha tanta força e gás em campo num dado momento que o jogo estava paralisado por uma contusão de um jogador, ele me respondeu:
- Tenho além de muita fé em Deus uma força que não me permite errar, uma luz que não permito apagar, sou persistente, puro sangue!
Perguntei novamente:
- Caramba cara, te admiro muito, o que te inspira mais ainda a continuar jogando ? Um contrato lá fora ?
Rosário foi enfático:
- Não, talvez seria hipocrisia dizer que não quero jogar lá fora, mas o que me inspira além dessa força dos céus é uma estrelinha de 4 anos, minha rainha, minha princesa, a minha real vontade de viver, o nome dela é Isis!
O jogo recomeçou e não deu tempo para perguntar quem era Isis, mas provavelmente era sua filha pelo carinho com que ele falou, eu continuava a batalhar para tentar alegrar meu filho querido com a vitória que ele tanto queria, chegou 40 minutos do segundo tempo e tinhamos um pênalti a favor, Rosário pediu para bater, claro que eu deixei, ele era uma fera mesmo, correu para a bola e bateu, viramos o jogo, três gols a dois, sensacional!!!! Supimpa!!!!!
Mas como a vida muda em apenas 5 minutos, já eram 42 minutos e mais 3 de acréscimos, após o gol Rosário saiu machucado, ele havia sentido a panturrilha, em seguida o Xeque Mate empatou o jogo em um chute de fora da área, quando eu pensava que não haveria coisa pior nos acréscimos um jogador chamado FIASCO que era Equatoriano arriscou um cruzamento e a bola foi pro gol, perdemos de quatro a três, foi inexplicável, como eu ia explicar isso a meu filho? Como eu ia explicar isso à minha mulher, Ana Paula ?
Chorei em campo, parecia um resto de homem, um maltrapilho, não tive coragem de ir à minha família, foi quando Rosário chegou até mim sorridente e feliz, não compreendi após uma derrota dessas, ele saindo machucado, qual o motivo de tamanha felicidade, perguntei a ele o que houve e ele me respondeu bem claramente.
- Acabei de ter uma ótima notícia do hospital, minha filhinha Isis acabou de fazer o transplante de medúla óssea com sucesso!
Lágrimas brotavam no rosto de Rosário, ele havia me explicado que sua filhinha Isis tinha leucemia e que naquele exato momento da partida estava fazendo a cirurgia de transplante, muito bem sucedida por sinal!
Rosário me mostrou afinal qual vitória valeria naquele momento, a vitória da vida, a vitória da perseverança, a vitória do amor, a vitória daqueles que não desistem, Ele nunca desistiu em campo e me mostrou como devíamos nos portar, como também fora, com determinação e vontade de vencer, mas sabendo que as derrotas fazem parte da adversidade da natureza humana, "obrigado Rosário" foi o que pude expressar, o SUPIMPA com certeza estará sempre motivado e pronto para ganhar e perder, mas perder lutando como a Isis.
Depois disso dei um beijo e um abraço longo em Ana Paula cheio de lágrimas, vi meu filho dizer que sou um vencedor e que na partida de volta iriamos reverter o resultado, amo minha família, agradeço a Deus e ao amigo Rosário e claro a princesa Isis "Sua vontade de viver nos faz virarmos a vida, afinal ela é um jogo reversível".
Obs:Texto em parceria com o grande escritor e poeta Helládio Holanda, de João Pessoa-PB, conheça os trabalhos do artista em seu recanto, abraços a todos!