Quebrando as Regras

"Não acredite no amor à primeira vista", me disseram. E eu não acreditei. Pra garantir, não acreditei nem à segunda e nem à terceira vista. Até que naquele dia saí de casa...

"Parada da primeira estação do metrô.

Segue-se como em qualquer outro dia de início de verão, o Sol já brilhando alto desde cedo. E o calor envolvia-me irritantemente grudento. Corro pro trabalho almejando o ar condicionado. Detesto o verão. E esse promete ser muito quente.

O trem faz parada na segunda estação. Entra gente, sai gente. Trivial. Monótono.

O cortejo da manhã rumo ao centro da cidade inicia-se, como todos os outros dias. As pessoas apressadas. Proibido olhar o outro nos olhos, isso é considerado uma afronta. Sempre olhe pra baixo, na dúvida, olhe pro lado e disfarce. Rotina.

O trem faz parada na terceira estação, sai e entra mais gente. Meu fone sem funcionar.

Ficar a sós com meus pensamentos era algo que eu não considerava hoje.

- Droga de fone barato!

E foi aí que quebrei as regras. Dirigi meu olhar para o outro lado do vagão. E foi tão certeiro. Verde? Castanho claro?

Quarta estação, mais gente. Qual era a cor daqueles olhos?!

O rosto quadrado emoldurado por uma bela barba, que seguia em continuação de um cabelo milimetricamente aparado. Camisa xadrez, vermelha e preta. O contraste da pele alva com os cabelos e barba negra eram quase que resplandecentes.

O metrô para de novo. Só isso que sei.

Vi um esboço de sorriso e, inconscientemente retribuí. Algo naquele olhar me dizia que já nos conhecíamos há muito, mesmo sem nunca termos nos visto antes.

Parei de contar estações. Não importava mais. Não depois de que o sorriso se abriu e pude ver os belos dentes brancos e alinhados me encarando.

À medida que as pessoas iam e vinham, o trem foi ficando vazio. E o sorriso. Aquele sorriso.

- Moça, você não vai descer? - falou alguém. Estação final.

Dei uma última olhada pra trás e lá estava ele ainda. Sorrindo pra mim, quase como que um fruto da minha imaginação. Quis erguer minha mão num 'tchau' tímido, mas faltou coragem. Ele a teve e fez o sinal de 'até logo'. Cada um seguiu para um lado da saída.

Tivemos uma longa conversa num olhar. Ainda bem que quebrei as regras."