Só um cigarro
- Está triste ou tá puto?
Eu demorei a responder. Arthur sempre me perguntava isso cada vez que um relacionamento meu acabava. Com o passar do tempo -e de tentativas de ter um namoro sério- acabou virando tradição ele me perguntar isso. Acho que quando eu ficava triste era porque realmente estava gostando de quem eu tinha por perto.
- Triste… - Respondi olhando o meu cigarro acabar gentilmente em brasas pequenas.
Acendo outro cigarro em silencio e espero que um dos dois tenha algo construtivo a dizer. Sempre ficamos um pouco calados nessa situação que ficou batida. Palavras clichês, aquelas usadas por amigos que nem são tão amigos, não serviam com a gente. Ou xingamos até a quarta geração ou ficamos olhando o nada, admitindo a porrada sofrida.
- Caralho. Outro?!
- É bom pra esses momentos. Bom pra fazer pose.
- Pose de quem acabou de levar mais um chute?
- Não é ‘mais um chute’. É só um chute. Que acontece.
Calados, o cigarro chega ao meio e já penso em ascender outro. De uns tempos pra cá, tinha diminuído. A primeira tragada não era tão boa. Mas quando começava… Era como se eu pudesse fumar o maço inteiro, como se fosse só um cigarro que parou no tempo para que eu tivesse tempo de pensar.
- Bem que podia ter alguma coisa pra beber.
- Eu não vou lá comprar.
- Nem eu!
A noite só no começo. Era mais uma daquelas noites em que eu me sentia bem por estar mal. Desvirtuando o assunto. Pulando etapas na história e esquecendo o motivo original de sentarmos pra conversar. Ou vai ver era pra isso mesmo que a gente se juntava. Não estava puto. Estava triste. E a gente lembrava outros motivos para estar triste. Até esquecer.
- Eu vou lá comprar. Isso fica melhor com vinho.
- Bora.
Outro chute e outra vez aquela sensação de que tinha uma calmaria onde posso ir. Depois do diluvio, vem o vinho!