Teoria da amizade - Um fato extraordinário entre duas pessoas extraordinárias
PRÓLOGO
Em algum momento na história da humanidade chegamos a conclusão que deveríamos nos unir e viver em sociedade, como um meio de sobrevivência, um protegendo o outro. E então depois de milhares de anos ainda vivemos assim, nos agrupamos, criamos sociedades e nos reproduzimos, mas agora por uma necessidade muito maior, precisamos de outras pessoas para sermos completos e não mais para nos ajudar a caçar animais e conquistar territórios.
No meio de todas as pessoas que convivemos desde que nos entendemos por gente, existem aquelas que escolhemos conviver, aquelas com quem não temos laços sanguíneos ou vontade de nos reproduzir, são pessoas que simplesmente gostamos de compartilhar nossos melhores e piores momentos, essa convivência se chama amizade.
É completamente impossível saber qual é o momento exato no qual duas pessoas decidiram se tornar amigas. Não se sabe qual é a fórmula ou o que tem que acontecer exatamente para duas pessoas se olharem e dizer “Ei, vou confiar minha vida em você!”, podem levar anos, horas de conversa, alegrias, tristezas, saúde, doença... É como um casamento, só que não há traição, necessidade de estar presente todos os dias e nenhum interesse material.
E nesse momento você deve estar pensando “Mas para conseguir algo assim deve demorar anos até termos a certeza de que alguém é digno de tanto crédito, ainda mais nos dias atuais!”, e eu digo que não. Exatamente por não ter uma fórmula, tanto pode demorar anos quanto horas. Não é uma ciência exata.
Isso acontece independente de opção sexual, condição financeira, distância, cor dos olhos, cor da pele, altura, beleza... O único interesse real em uma amizade é encontrar em uma outra pessoa motivos suficientes para acreditar que o mundo ainda é um lugar legal para viver.
A TEORIA
Em um planeta em que tudo tem um preço, ainda não descobrimos como comprar uma verdadeira amizade. Aliás, não sabemos ainda nem como achá-las. Quando tem que acontecer simplesmente acontece, seja por obra do destino, Deus, Ala, Ganesha, Goku ou do que você quiser chamar.
Para explicar essa teoria quero que você imagine um amigo, mas aquele seu amigo que pode ser considerado um irmão, aquele que se alguém falar que é feio você se sente ofendido, aquele que você é ligado de uma maneira que mesmo sem falar ou ver você sabe que está triste.
Tem um amigo desse? Ótimo. Então vamos prosseguir.
Agora quero que busque em sua memória o que tornou essa pessoa em seu amigo, consegue saber o momento exato em que ele te provou que era digno de confiança, você sabe dizer como foi exatamente a sua primeira conversa, ou quando trocaram confidências?
Se você estiver pensando realmente em um amigo como descrito, sua resposta será NÃO. Isso é simples, pois na regra básica da vida tudo que podemos identificar um início, ele certamente terá um meio e um fim.
Amizades verdadeiras não tem fim, por mais que haja brigas, ou que cada um tome um rumo diferente e não se vejam. Sempre vai ter uma maneira para ela permanecer inabalável.
Se ocorrer uma briga, passamos por cima do nosso orgulho e pedimos desculpas. Se existir distância, haverá tecnologia. A amizade sendo verdadeira, não existe motivos suficientes para acabar.
PROVA DA TEORIA
Como em toda teoria, devemos explicar com fatos da onde surgiu essa história. Então, vou contar uma breve história que justifique isso tudo. As personagens principais são uma mulher e um homem, não é uma história romântica, apenas uma prova da teoria.
Morando em cidades diferentes, em um dia qualquer de dezembro de 2011, por motivos que iremos desprezar, uma mulher iniciou despretensiosamente uma conversa com um desconhecido.
Em pouco tempo a mulher descobriu várias coisas em comum com o homem, desde a paixão por livros até os problemas na juventude.
Mesmo não vivendo os seus melhores dias ele a ensinou a ver o mundo de uma forma melhor, a acreditar que ainda existia motivos suficientes para esperar o melhor das pessoas.
Sem pedir nada em troca, um se preocupava com o bem estar do outro.
E imperceptivelmente foram surgindo várias ligações entre os dois, a necessidade de querer fazer o outro se sentir bem, a preocupação com a saúde e até mesmo as broncas quando um fazia algo errado. Era natural. Em nenhum dia foi por interesse.
Os dias iam passando, as vezes não se falavam por muito tempo, mas nada disso mudou o afeto que sentiam um pelo outro.
Mesmo um tendo a companhia do outro, isso não fez com que seus dias se tornassem perfeitos, vários dias foram insuportáveis e desejaram profundamente não ter saído do útero da mãe. Só que quando se falavam encontravam conforto, se descontraíam e os problemas se tornavam pequenos.
Nunca foi necessário saber todos os detalhes da vida um do outro, o que importava era o que essa amizade representava na vida dos dois.
Agora verifique algumas coisas, em nenhum momento sabemos a cor da pele, opção sexual ou classe social de nenhum dos dois, a única coisa que sabemos é que não moram na mesma cidade, o que foi só um detalhe para confirmar a teoria.
E é assim que deve ser, uma pessoa existe para tornar a vida de outra melhor. Se você olhar para dentro e perceber que não está tornando a vida de ninguém melhor, você está desperdiçando o seu tempo.
Uma vez o escritor Antoine de Saint-Exupéry disse que em um mundo que se faz deserto temos sede de amigos. Ele estava mais do que certo.
Por mais que você não queira, a vida só é completa quando se tem alguém para compartilhar. Nem os mais corajosos heróis do cinema vivem sozinhos, mesmo eles sendo algo fictício e com poderes magníficos. Então por que nós, frágeis e sem poderes iríamos viver?
Perceba tudo a sua volta, veja como é comum ligar a televisão e ver os noticiários mostrando como a vida perdeu o valor, como não existe mais amor entre as pessoas nem tolerância com o erro do outro... E então, no meio de tanta barbaridade, você sabe que pode contar com alguém pra vida toda. Você consegue se dar conta como é abençoado? Consegue imaginar que em algum lugar existe uma pessoa torcendo para o seu dia ser bom, uma pessoa que para ser feliz depende integralmente da sua felicidade?
Antoine também disse que nos tornamos eternamente responsável por aquilo que cativamos. Mais uma vez ele estava certo.
Nós nos tornamos responsáveis não porque isso é algo cobrado em uma amizade, e sim porque a partir do momento que colocamos alguém na nossa vida ela começa a ser um pedaço de nós mesmos, ser responsável por um amigo é o mesmo que ter um pedaço do seu coração fora do corpo, não está dentro de você mas faz parte de você. E essa responsabilidade vem de uma forma tão natural que não sentimos o peso em nossos ombros.
EPÍLOGO
Se em algum momento essa teoria se aproximou da sua realidade, sorte sua. Existe alguém em algum lugar torcendo para que os seus sonhos se tornem realidade e que você seja o mais feliz possível. Mas também significa que existe um pedaço do seu coração fora de você, e se você quiser que o pedaço que está dentro de você fique inteiro, você deverá cuidar com carinho dos pedaços que estão espalhados do lado de fora.
E se infelizmente essa teoria não te serviu para nada, talvez deva repensar no que ainda está fazendo com a sua vida. Viver sem amigos é como tentar jogar pingue-pongue sozinho, não faz o menor sentido.
Ter um amigo não vai ser a solução dos seus problemas, mas quando estiver cansado de lutar você irá encontrar neles motivos suficientes para não desistir.