A Saga do Zé

Essa é a história do Zé. Sim, do Zé! Aquele que você conhece... O Zé é uma pessoa tranquila. Rapaz honesto, trabalhador. Todo dia, bem cedinho, ele acorda, se arruma todo, pega suas coisas (inclusive uma marmita que a mulher dele faz todo dia de manhã antes de levar a meninada pra escola, sabe?) e vai pra pegar seu ônibus. Não é um ônibus qualquer... É a lotação que passa cedinho também, e já vem cheia. Não adianta: sempre que o Zé chega no ponto de ônibus, o danado sempre tá lotado... E o cobrador ainda grita: dá um passinho pra trás, gente, que cabe mais! E o Zé fica louco de raiva... Será que ele não vê que não tem espaço nem pro mosquito que enchia o saco de todo mundo aqui não? Ele é cego? Só pode... Queria ver se fosse a mãe dele aqui dentro, o que ele ia fazer... E olha que essa é só a primeira lotação do dia!

E o Zé anda, viu... Fica mais de 2 horas, todo dia, só pra ir pro trabalho. Isso se não chover ou acontecer algum acidente durante o caminho, porque aí ele perde a noção do tempo - e a bateria do celular novo, mas muito simples, que ele comprou pra pagar em 3 vezes no cartão de crédito que ele conseguiu, com muito custo, no banco em que ele recebe seu salário sofrido... A volta o Zé deixa nas mãos de Deus, pois sempre tem alguma coisa errada no trânsito que o Senhor Prefeito da cidade onde o Zé mora disse que é um dos mais tranquilos do país - e, mesmo assim, o Senhor Prefeito, que foi eleito pelo voto do Zé, insiste em construir e reconstruir mais ruas e avenidas na cidade.

O Zé trabalha demais. E não vê seu dinheiro suado render nada durante o mês... Zé é daqueles que recebe no 5º dia útil do mês e o dinheiro não dura nem até a noite. Mas ele cria seus filhos com toda dignidade do mundo! Uma dignidade tão grande que nenhum dinheiro no mundo pode pagar... Mesmo assim, ainda continua sem dinheiro! É muito imposto, pensa o Zé, sem nem saber direito o que significa imposto, e muito menos o significado de muito... E o Zé sempre procura uma forma de ganhar mais dinheiro pra não deixar nada faltar dentro de casa: é uma fézinha num joguinho aqui, um bico no final de semana ali... Ele nunca está parado! Mas, pela pouca instrução (alguns diriam até pela falta de vergonha na cara dele, que não procura algo melhor pra fazer da vida, e só fica num empreguinho medíocre), acaba sendo enganado por alguns amigos (que estão na mesma situação que ele) e vai procurar seu benefício, que o Senhor Presidente do seu país liberou pra todo mundo que é cidadão de bem, honesto e trabalhador igual ao Zé... Coitado; foi desiludido por mais uma lorota que contaram pra ele... Mas ele não desiste nunca! Sempre faz a sua parte pra dar o melhor pra sua família.

Mas, infelizmente, alguns acham que ele faz coisas que não precisa... Afinal, mesmo sem instrução (ou na falta de vergonha mesmo), ele ainda sabe que tem direitos - mesmo sem saber também o que significa isso - e deveres - isso ele sabe muito bem; já tomou muita surra da vida pra saber o que deve fazer! Ele vota sempre (esquece em quem votou, às vezes vota em alguém porque fala bonito e ele não; mas sempre vota), paga suas contas em dia (mesmo sem saber porque a conta de energia veio tão alta, sem ele nem ter uma TV dessas da propaganda em casa), nunca quis burlar o sistema de transporte (mesmo com todo mundo do seu bairro andando sem pagar; cambada de vagabundos que não têm o que fazer, ele pensa). Mas isso tudo não basta.

O Zé não é visto por aí. Não porque ele não existe, mas porque ele não é reparado. É o tipo de pessoa que todo mundo fala: ele deve roubar; como ninguém prendeu ele ainda?; alguém precisa ajudar ele. Mesmo assim, o Zé vive cada dia como se fosse o último! Não tenho dinheiro, mas tenho alegria o suficiente pra pagar meu dia - pensa o Zé, todo dia assim que entra na primeira lotação pra trabalhar...

E assim seguimos nós, os Zés da Vida, procurando uma forma de mudar nossa situação...

Willer Jones
Enviado por Willer Jones em 30/05/2013
Reeditado em 30/05/2013
Código do texto: T4317211
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