A rotina de Rosária

Enquanto o quarto continua ali, às escuras, o relógio fielmente cumpre a tarefa de despertar a jovem Rosária. Mas antes de pôr o pé no chão, ela se espreguiça calmamente. Seu acordar é sempre desse jeito, sem pressa. Rosária vai à janela e debruça-se sobre o parapeito e espia o clima lá fora. Sem licença pedir, o frescor do orvalho invade seu quarto e deixa uma sensação de imperceptível cumplicidade. Rosária, após colocar as idéias em sintonia com o dia, consulta o relógio e constata que está na hora de se apressar.

Na cozinha, enquanto a chaleira chia há cheiro de pão quentinho na mesa. Rosária toma seu café um tanto apressada, pega sua bolsa, despede-se e se vai. Enquanto sua mãe a segue com o olhar, a vizinha, como de costume, já está de prontidão, a conferir o passar da moça.

Abençoada com beleza incomum, por onde quer que passe, seu passar não passa despercebido. Deixa para trás de si olhares de admiração, curiosos, e também alguns de inveja. Charmosa e atraente, após andar pequeno trajeto que a separa do ônibus, chega junto à parada que fica ali, em frente da lancheria do seu Onofre. Demais usuários ali já estão, carregando na face expressões as mais diversas. Entre elas, a indiferença mesclada com ansiedade, a que mais se destaca. Alguns minutos a mais, e está ela sentada no terceiro banco junto à janela. Enquanto o ocupante ao lado cochila, o motorista bigodudo, que viu Rosária entrar, de relance tenta conferir a beleza da moça espiando pelo retrovisor. Um buzinaço repentino faz o motorista voltar a concentrar-se ao volante. Rosária, que estava alheia aos olhares do condutor, abre a janela e observa pensativa a paisagem urbana sem se impressionar. A mesmice induz-a a pensar nos áureos tempos de sua infância, de quando ainda usava tranças e vestido de chita.Mas... uma travada brusca faz com que ela "acorde" e perceba que já foram atravessados os dois bairros que a separam do seu trabalho. Rosária trabalha de vendedora numa loja de confecção de porte médio no centro da cidade. A loja fica situada numa esquina de grande movimento.

Rosária antes de inicair a jornada, ajeita o cabelo e retoca a maquiagem. A maquiagem deve estar suave, mas ao mesmo tempo bonita e impecável. Assim como nos conformes deve estar o seu traje. Lança um último olhar ao longo espelho retangular preso na parede e apenas então inicia o seu trabalho.

Apesar dos demais funcionários serem gentis e atenciosos, o carisma e a simpatia de Rosária pode-se dizer, superam qualquer expectativa. jogo de cintura é o que também não lhe falta. Atende a todos com a mesma disposição. Sempre ocupada, a manhã passa depressa e, quando menos espera, vê-se sentada com algumas colegas no restaurante da Dona Adélia, que fica ali perto.

Logo no início da tarde, o movimento intensifica-se e Rosária continua circulando com sua simpatia contagiante, sempre procurando atender da melhor forma possível. Mesmo quando acontece a inevitável troca de mercadoria, Rosária mantém sua expressão serena e tranquila. Ao acabar de atender uma cliente antiga, entra um casal procurando um presente para o netinho que acabou de nascer. Rosária dá inicio a um pega daqui, larga ali,, puxa acolá que parece interminável. A vovó encantou-se com um conjuntinho verde-água, o vovô gostou do azul. Vai ver é gremista, pensa consigo a vendedora. Conversa vai conversa vem, Rosária sugere mais outros, para até que enfim, acabaram comprando um amarelinho com detalhes em azul. Satisfeitos com a compra efetuada, o casal retira-se. A venda seguinte, concretiza-se em poucos minutos. O cliente determinado entrou sabendo o que queria e sabia que ali iria encontrar a mercadoria desejada. E assim, sucessivamente Rosária atende um por um, incansável. No final do dia, do rosto do gerente emana uma luz de inconfundível satisfação. Rosária também, despede-se de seus colegas com a certeza de dever cumprido.

Encerrada a jornada do dia, está a Rosária outra vez na parada do ônibus, aguardando o retorno. Enquanto o ônibus não chega, fica observando as pessoas, a alegria das crianças que passam. Com isso concentrada, não percebe que alguém se aproxima e lhe oferece carona. Quem será?

iranibenderscs
Enviado por iranibenderscs em 26/05/2013
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