Minister Parte 2

Após um cigarro e um café gelado sinto-me mais saudável, meio triste, mórbido um pouco apodrecido aporrinhado mas fisicamente bem e mentalmente triste. Raramente me balaço ou me atiço, vivo bêbado e desgraçado.

-ÓDIN...

Era só oque faltava, uma voz estridente me obrigando a vestir as calças.

-Só um instante., Pronto, Leda?

-Quem mais chegaria gritando no corredor de um prédio caído com garrafas de cerveja Praga?

-Só você mesmo, entre.

-Achei que nunca convidaria.

-Não seja boba querida.

-Deixe de papo, coloque a cerveja para gelar.

-Com todo prazer.

Um sopro de menina me bateu a porta, me fez sorrir, isso é estranho, me sinto bem com uma moça que mal conheço, ela tão desgraçada quanto eu, me faz mais do que meu resto de whisky.

-Pronto.

-Finalmente, agora me dê um beijo com gosto de cigarro amanhecido.

Beijando aqueles lábios quentes com gosto de conhaque Napoleon, agarrando aquelas pernas fortes e amolecidas sinto-me num êxtase puríssimo, tão forte quanto amor ou orgasmo.

-Senti saudade.

-Também, quer alguma coisa?

- Musica.

-A essa hora?

-Sim, ou prefere que teus vizinhos escutem meus gritos?

-Você não perde o bom humor.

-Não é bom humor é fingimento.

-Fingimento?

-Sim, tenho o costume de enganar a dor que se cravou em minha carne.

-Isso é meio insano, não?

-Talvez, mas agora esqueça.

-Tudo bem, que tipo de musica quer?

-Que tal um blues com uns solos de gaita?

-Perfeito.

Ver aquele corpo se contorcendo como quem quer mastigar mundo me atiçou os olhos, a cada rebolada torto um pedaço de pano florido vai para o chão.

-Vem, dance comigo, sinta a musica, sinta minha carne, sinta meu sexo.

-Não sei dançar tão bem quanto você mas seu convite é irresistível.

-Para com isso, vem logo.

Rodando feito um tonto com aquele corpo entre os braços sorrindo e indagando para o além muito me baqueou, a impressão é que tinha o mundo inteiro nas mãos. A pele quente com um fraco cheiro de cerveja entre seios, as mãos maliciosas correndo pelo meu corpo cansado, a fraqueza nos olhos, o amolecimento do corpo, a vontade intensa e insana rasgando a carne e contagiando o outro. Era um prazer único que saltava dos olhos.

-Vou pegar a cerveja

-Vá, mas não demore.

-Me espere na cama.

-Como quiser benzinho.

Leda tem vários momentos, as vezes fala feito uma puta descabida e as vezes fala como uma doutora mãe de família. Estou gostando disso. Devo ser o tipo de pessoa que aprecia o podre e amarelado da humanidade.

-Pronto querida, deu um pouco de trabalho abrir a garrafa.

-Cerveja alemã não é do tipo que se abre nos dentes. Você tem cigarro?

-Sim, pode pegar.

-Fazia tempo que não sentia isso.

-Sentia oque?

-O prazer de segurar um cigarro após uma dança de corpos nus.

-Você me faz bem Leda.

-Só oque faço é adormecer seu infortúnio.

-Não me importo com oque faz, só sei que me faz bem e as vezes isso é bom.

-Então deixe de conversa, me veja como sou, leve-me até o fim.

Aquele corpo por cima do meu falando coisas que mulher nenhuma falaria fez com que o mundo inteiro ficasse ainda mais insignificante do que realmente é. A vontade era de parar tudo, morrer ali, se acabar em um só corpo, como quem morre apaixonado ou desesperado.

Lélia Borgo
Enviado por Lélia Borgo em 16/05/2013
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