Carlos Querido Fracasso
Duvido que exista no mundo um ser tão azarado quanto Carlos Querido Fracasso. Começa pelo nome e pelos defeitos. É, ele tem defeitos, sim! E quem não tem? Hein!?! Vamos lá, diga! Que atire a primeira pedra quem não tem defeitos!!!
O maior de todos os seus defeitos é não dominar a técnica de mentir. Fala a verdade na cara, doa a quem doer. É um chato, muito detalhista, um verdadeiro perfeccionista. Nunca está contente consigo mesmo. Além disso, não se arrepende de nada do que já fez. Mas se arrepende do que, por algum motivo bobo, deixou de fazer. Está sempre atento a tudo em sua volta.
Garanto que Carlos é uma pessoa extremamente desonesta! E mais: é falso, invejoso e sem escrúpulos. Ainda não foi preso nem excluído do convívio social porque, Deus adicionou a pior sorte do mundo sempre que resolve se aproveitar a ocasião. Até mesmo quando não existe canalhice, mas uma boa oportunidade para se dar bem, entra pelo cano. Ah, é um cara legal. Apesar de tudo!
Suas referências também não colaboram muito. Não apenas não sabe falar bem umas três ou quatro línguas, como ainda inventa outra qualquer com uma influência e força de expressão capaz de fazer um estrangeiro acreditar que está diante de uma variação da própria língua. Sem sombra de dúvidas estamos diante do maior poliglota: não fala em português, não fala em inglês, não fala em francês e ainda consegue não falar em italiano, muito menos em latim. Quem dirá então, em alemão!
Carlos, com a experiência de 44 anos de vida, este pobre homem nascido para fracassar em tudo, foi milagrosamente convidado para a festa de aniversário da filha mais nova de seu melhor amigo. O “espertalhão” compareceu ao compromisso trajando uma camisa com uma perfeita combinação de roxo, azul-celeste e vermelho, em desenhos que diria que evocavam a finitude da vida e o interminável renascer do homem, em sua trajetória pelos tempos, numa espiral enlouquecida, cujo cromatismo representa a incansável luta do bem contra o mal, da vida contra a morte, dos cães contra os gatos, do Corinthians contra o Palmeiras...
Enfim, imagine um membro de uma escola de samba entrando todo sorridente no salão de festas de um dos Bufês mais bem freqüentados da cidade. No mínimo, causa surpresa, uma fuga em massa talvez, ou simplesmente um ataque de risos. Terceira opção! A tribo inteira saiu das ocas. Veio toda a hierarquia ianomâmi ver o homem branco fantasiado de arara. Todos os presentes ficaram tão chocados com a imagem, que simplesmente congelaram, e a festa só voltou ao normal uma hora depois de sua chegada espalhafatosa.
Se alguma coisa boa der certo na vida de Carlos, é porque tem alguma coisa errada no mundo. Certamente, o eixo do planeta Terra foi deslocado em seis centímetros ou mais, por causa de um Tsunami na Tailândia, ou o Bush foi flagrado tomando um inocente cafezinho com o companheiro Bin Laden combinando assim a data de um próximo atentado terrorista de sucesso só para assustar a nós pobres mortais, ou alienígenas estão invadindo o planeta em busca de jaca, pois descobriram que tal fruta possui efeito afrodisíaco em seres extraterrestres.
Tentando fazer um passeio turístico, Carlos passa por um grande e antigo teatro em reforma. Na visita, ganha de um dos responsáveis pela obra uma telha que aparenta ter sido quebrada e depois ter seus pedaços porcamente juntos com o uso de uma super cola. Enquanto entrega o suvenir a Carlos, o homem explica que as telhas costumam cair com bastante freqüência no local e por esse motivo usava um capacete. Pois bem, ele usava um capacete,... Carlos, não!
Foi assim a triste, trágica e ridícula morte de Carlos Querido Fracasso, o sujeito mais azarão que já existiu. Nem na hora da morte o coitado recebe a graça da dignidade.
Embora tivesse todos os defeitos conhecidos e imagináveis não merecia uma morte tão bizarra.
Vai ser azarado assim lá na ponte que partiu, ou na telha que caiu!