Sonhos e café.
E quais são seus sonhos? Pergunta que parecia ser tão simples de ser respondida que julgava-se estar na ponta da língua de cada um e de cada uma. Parecia simples para os outros, não para Lisbela. Lisbela era uma mulher meio difícil de ser compreendida. Tinha dias que acordava radiante e sentia toda a felicidade do mundo vibrar em suas entranhas. E haviam dias- dias esses que estavam se repetindo com frequência- que ela não queria levantar de sua cama e seu único desejo era dormir. Levantava-se porque era o jeito. Mas parecia uma morta-viva. E as perguntas sobre os sonhos era respondida tão vagamente, que nem bem chegava a ser uma resposta. Geralmente, ela respondia que queria filhos, um emprego estável e a sua tão almejada qualidade de vida. Nada muito específico. Eis que, em mais um dia de domingo, voltando da padaria com a sua família -hábito já consagrado no domingo, logo após a missa- lembrou-se do que já havia esquecido. O seu amor pelo café e pelo ambiente da padaria poderia ser uma das possíveis respostas para o questionamento dos tais sonhos. Imaginou-se em um dia frio, caminhando pelas calçadas de uma avenida comercial. Desejando esquentar-se, abre uma leve porta de vidro que faz um singelo barulho avisando a sua chegada. Ao adentrar no lugar, sente o calor envolvendo-a juntamente com todos aqueles aromas. Café, pensou. Olha as pessoas sentadas em suas mesas, bebericando um líquido escuro e perfeitamente amargo em suas delicadas xícaras. A maioria deles em silêncio. O ambiente para uma reflexão que está refletida nos olhares fixos e desconexos com a realidade. Certamente ali ela se sentiria bem. Café, pensou novamente. Talvez o seu sonhos estivesse mergulhado em uma xícara branca de porcelana que guardaria a digital dos muitos que um dia a segurassem. Uma cafeteria com alguns doces sofisticados, sonhos, mesas de madeira, uma decoração que servisse de passagem para um passado charmoso, e claro, muitas e muitas xícaras de café. Talvez, finalmente, Lisbela tivesse achado uma de suas tantas respostas. Nada melhor para acompanhar um sonho do que uma xícara de café.