MÃE? MÃE!
Marta contava os minutos para o fim da festa de aniversário de três anos, da sobrinha do marido Henrique.
A festa estava agradável; o que ela não mais suportava, eram as especulações acerca da tão esperada gravidez.
A família de Henrique os cobrava um filho, sem perceber o mal que causavam.
Desde que, trocaram alianças, ele sempre manifestou o desejo de ser pai, a esposa evitava a gravidez a fim de consolidar-se no trabalho, e terminar sua faculdade.
Os anos se passaram, e quando ela desejou o filho não conseguia engravidar, deram início a inúmeros tratamentos sem sucesso algum.
Agora, prestes a completar cinquenta anos, sentia esvair a esperança.
Por ela adotavam, mas o marido insistia em novas tentativas e este, foi o motivo da briga que sucedeu no carro, assim que deixaram a festa.
Ela acusava a família dele de pressioná-la tanto que atrapalhavam, e ele à acusava de não ter engravidado quando era jovem.
E logo calou-se ao ver a mulher se debulhar em lágrimas.
Ele não deu sequer uma palavra, entrou em casa e logo após o banho, acomodou-se no sofá.
Pela manhã, Marta reunia forças para sair da cama após ouvir a porta bater... Em vinte anos de casados, ele nunca havia saído para o trabalho tão cedo e sem ao menos cumprimentá-la.
Sem saber como agir, pensou em ligar para a casa de sua irmã e desabafar; Maria é evangélica, e poderia orar por ela.
Enquanto refletia o telefone tocou, era Maria; estava orando e Deus revelou a ela, que sua irmã não estava bem, e devia levá-la a igreja naquela manhã.
E assim ela fez, ainda relutante, Marta se trocou e acompanhou Maria, até a consagração.
Após as orações, uma missionária levantou-se do banco e dirigiu-se à Marta dizendo:
- Deus te trouxe aqui nesta manhã, e mandou dizer, que ainda este ano, vai amamentar o filho que dará muito orgulho a você e sua família! E o que Deus promete ele cumpre, então creia que a vitória é sua!
Marta não tinha palavras para retrucar ou expor suas dúvidas, chorava compulsivamente.
Enquanto isso, na empresa...
Pela primeira vez, Henrique notou com certa malícia os dotes da estagiária que se insinuava constantemente para ele.
E para a supresa da moça, o chefe sem segundas intenções à convida para almoçar com ele no restaurante próximo.
O que ele queria,era fugir um pouco dos problemas e conseguiu.
A moça era divertida,e tinham tanto em comum que ele a dispensou de cumprir o expediente e passaram boas horas tomando algumas taças de vinho, conversando e rindo muito.
Ao sair do local, ele ofereceu uma carona a moça, que em dado momento o beijou.
Ele que nunca havia traído sua esposa, retribuiu meio confuso o beijo... Mas retribuiu.
A forte atração os levou a um motel e passaram o entardecer e toda a noite juntos.
Dias depois, Marta tomou ciência dos fatos e o casal se separou.
Foram três meses de muito sofrimento; até que, decidiram reatar o casamento.
Contudo, a moça não se conformava e infernizava a vida deles; e tudo piorou quando Juliana informou a gravidez a Henrique.
A notícia caiu como uma bomba no frágil casamento, foram meses amargos.
Marta sofria vendo o olhar de encantamento do marido para a barriga da rival, vinte anos mais jovem, mas apoiava o marido em todos os planos relacionados a criança que estava por vir.
Inclusive, foi Marta quem cuidou de Juliana na ausencia da família dela que residia em outro estado.
O menino nasceu prematuro, recebeu o nome do pai e ficou internado na UTI neonatal por dois meses.
Quando foi pra casa, Juliana reclamava do choro do bebê, e demonstrava sua impaciência com gritos.
Ela havia reencontrado o ex-namorado por acaso e reatado o namoro, inconformada com as mudanças em seu corpo, culpava o bebê.
Quando soube que o namorado foi promovido e teria que assumir o novo cargo em uma filial no canadá, ela foi até a loja de Marta, entregou a criança em seus braços, com a desculpa de ir socorrer uma amiga, deixando a promessa de voltar rápido, afinal teria que amamentar o bebê.
Juliana só voltou a dar notícias, uma semana depois de abandonar o filho, disse a Henrique que estava no Canadá refazendo sua vida e não tinha condições psicológicas de cuidar da criança, e nunca mais procurou o filho.
O casal cuidou do bebê e Marta o acolheu com amor tão puro, que seus seios produziram leite e ela pode amamentá-lo.
Neste momento único e emocionante, lembrava da promessa e agradecia a Deus... Ainda que não fosse como planejou, realizou seu sonho e compreendeu que Deus tem seus meios de agir.
Com os cuidados e amor de Marta, o menino teve uma infância saudável; a família pôs de lado as rusgas do passado e tornara-se unida novamente.
Trinta anos se passaram...
O menino tornou-se um médico responsável, casado e pai de um casal de filhos, que alegravam a casa dos avós!
Junior e a esposa cuidaram da mãe dele com muito carinho após o falecimento de seu pai.
Sexta-feira à tarde, na clínica onde uma vez na semana, presta atendimentos gratuitos; o Dr. Henrique Marcondes Junior, foi chamado para operar uma paciente, o caso era grave, porém de sua especialidade; a cirurgia foi feita com sucesso.
Junior olhava o rosto daquela senhora, e achava interessante a semelhança com os traços de sua filha.
Aquela senhora, não tinha família, estava debilitada e sem recursos... foi abandonada tal com fez um dia.
Junior sentiu pena... Muita pena, daquela senhora desconhecida, tão profundamente conhecida.