Maldade ferina
Começou quando ela adentrou a porta. Todos em pé na fila do banco, miraram seus olhares pra ela. Olhos expressivos indagavam: Queimadura?
Ela, com o corpo franzino, envergado pra baixo e o rosto entortado. No gesto, se fechava em si mesma. Uma multidão de olhos a acompanhar, alguns desviavam para não confrontar com o seu olhar. Timidamente, ela observava e fazia a "leitura visual". Alguns olhos coletivamente diziam: Temos que dar graças a Deus por sermos "perfeitos"!- Consigo ela pensava: Se sentem melhores do que eu!
Outros olhos diziam: -- Coitada! -- Sentem pena de mim, pensava ela, mal sabem eles, que adoraria não despertar esse dó, pois sou forte que só! Mas... tem um grupinho de olhos ali, que dizem coitada, por sentir uma pequena sensação do que poderia ter acontecido comigo segundo suas hipóteses. Afinal, nem um olho aqui conhece a minha história.
Prosseguiu até o atendimento e enquanto seu corpo ia, os olhos acompanhavam suas costas. Quando ela ameaçava girar o corpo... a multidão de olhos mudava de direção.
Ela continuava a pensar: Hipócritas! Como pode? Tantos olhos cheios de compaixão, demonstrando seu sentimento de superioridade, de mãos dadas com uma maldade ferina!
Nem se abalava com esses olhos. Não mais! Já estava acostumada. Mas não podia deixar de indagar.
Seu corpo, uma barreira para exposição de seu eu pro mundo. Nenhuma possibilidade de mostrar sua verdadeira história. O interesse ? (dos olhos) Apenas a explicação da 'tragédia'. Muitos a consideravam assim.
Ameaçou girar o corpo novamente, todos os olhos mudaram de direção. Não girou, retornaram ao foco. Girou! E todos os olhos procuravam outros rumos. Caminhando até a porta, pensava: Seus corpos, uma barreira para a podridão de seus "eus"!
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