O tempo não avisa
Foi numa dessas tardes em que o sol brilhava feito labareda no céu, mas derepente, como se alguém tive assoprado o sol, o tempo começou a escurecer.
As nuvens mudaram de cor, antes tão claras e azuis e, no momento seguinte tornaram-se como tintura negra dançando no céu, indo e vindo como se fossem integrantes de guangues travando uma luta uns com os outros.
Em casa, minha mãe saiu correndo a tirar as roupas do varal,às pressas. A chuva era eminente!
Todos os bichos correram a se agasalhar ao primeiro ribombar dos trovões. Minha mãe, ainda adotando a superstição dos antigos, gritou lá do quintal.
___ Corre menina, cobre o espelho!
Era sempre assim cada vez que vinha uma tempestade, tesouras eram escondidas, espelhos cobertos e minha mãe mandava a gente calçar os chinelos e ficar bem quietinho, de preferência acocorado num cantinho.
Tudo na mata é muito intenso e por vezes assustador. Os trovões eram tão fortes que dava pra sentir o chão tremer de baixo dos pés. Quando eles vinham, primeiro um estalo que provocava um clarão no céu e depois, aquele ronco tremendo como se fosse rasgando as entranhas do vácuo.
Minha mãe dizia que aqueles estalos acompanhados de luz eram raios e que eles podiam matar uma pessoa e mandava a gente ficar quieto, depois ela ficava num canto falando baixinho, compreendi que ela rezava, pedindo por papai que ainda na roça estava.
Num dado momento, um chiado, gritos dentro de casa e, por alguns segundos seguiu-se um silêncio pavoroso, a seguir um estampido quebrando no rumo da mata, sentimos a terra tremer e minha disse:
___ Valei-me nosso Senhor, onde foi que esse raio caiu?
Era um raio mesmo, magnífico por sua força e ao mesmo tempo assustador, minha mãe disse que era muito perigoso quando eles vinham para a terra, pois vinham descarregar energia.
Este raio, atingiu dois bezerros que se protegiam da chuva debaixo de uma imbaubeira. Coisa impressionante, os bezerros ficaram com os olhos arregalados e a língua para fora, pretinha da silva, no corpo, surgiram enormes caroços negros e quando a gente tocava neles, pareciam que estavam ligados numa tomada ou coisa parecida, dava choque.
Meu pai chegou depois a chuva passou e foi ele quem nos contara sobre os animais, dique os bezerros só haviam sido atingidos porque estavam debaixo de uma árvore alta, pois quando um raio vai cair ele procura o ponto que está mais perto dele para chegar até a terra, então meu irmão perguntou a papai.
___ Mas pai os bezerros não eram altos, então por que ele não matou só a imbaubeira?
Papai tentou explicar dizendo:
___ É que os bezerros, bem os bezerros...estavam de baixo da imbaubeira.
Mas meu irmão, dado sempre a uma indagação, disse:
___ Eu acho....
Mas papai não deixou ele completar, e disse:
___ José, meu filho, seu pai está cansado, depois voltamos a falar sobre este assunto.
Meu pai foi tomar banho, mas com certeza a pergunta de meu irmão estava lá, dava pra sentir por seu olhar perdido num ponto qualquer, creio que naquele momento alguma coisa dentro dele deve ter feito muita falta, a escola que desde cedo parou de freqüentar.